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Você é um adiador crônico? Saiba como resolver

Pesquisadores estimam que 20% da população mundial seja formada por procrastinadores crônicos, pessoas que adiam realizações em diversas áreas da vida

Por Marcia Di Domenico
Atualizado em 23 dez 2019, 13h48 - Publicado em 9 jan 2018, 09h00
Procrastine com qualidade (Getty Images/Getty Images)
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Todos nós já deixamos alguma tarefa para o dia seguinte. Isso é um traço humano que pode estar relacionado a diferentes motivos, como ter mais tempo para tomar uma decisão, precisar resolver algo mais urgente primeiro ou necessitar de mais subsídios para concluir o assunto. É uma atitude totalmente natural. Mas, quando esse “deixar para depois” se torna um hábito (e é aplicado em mais de uma esfera da vida), o problema é mais grave.

Segundo Joseph Ferrari, professor de psicologia na DePaul University, em Chicago, nos Estados Unidos, se a marca registrada de alguém é postergar decisões e atividades, esse indivíduo se tornou um procrastinador crônico. “Essas pessoas com frequência demoram para iniciar e concluir tarefas, na vida pessoal e na profissional”, diz o especialista, que estuda o tema há mais de 20 anos e tem quatro livros publicados sobre o assunto.

Ao contrário da procrastinação comum, que se deve, na maioria dos casos, à má administração do tempo, a crônica acontece por causa de uma reunião de aspectos psicológicos e comportamentais, como desorganização mental, ansiedade, impulsividade e falta de energia. “Se você atrasa tarefas quase todos os dias, pelo menos durante a metade de suas atividades, há grande possibilidade de que seja um procrastinador crônico”, disse Julia Elen Haferkamp, psicóloga da Universidade Münster, na Alemanha, numa reportagem do jornal americano The New York Times sobre a Procrastination Research Conference, que chegou à sua décima edição em 2017.


Você é um adiador crônico? Saiba como resolver
Toque para ampliar (Leandro Fonseca/VOCÊ S/A)


Com esses traços, concluir objetivos propostos torna-se muito mais difícil — e o fracasso na realização costuma gerar muito sofrimento. “Há ansiedade, arrependimento, angústia e autoestima baixa, sem falar nos prejuízos à carreira, aos estudos e aos relacionamentos”, diz Joseph.

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Uma pesquisa sobre o tema, feita em 2016 em Israel, Áustria, Austrália, Canadá, Grécia, Irlanda, Itália, Japão, Coreia, Peru, Polônia, Arábia Saudita, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos e Venezuela, detectou que 20% da população de cada um desses países é formada por procrastinadores crônicos, o que leva a crer que essa seja a média mundial. Outro estudo concluiu que esse problema é muito mais comum entre profissionais do mundo corporativo do que entre trabalhadores fabris — maior flexibilidade e maior  autonomia são algumas das explicações para esse dado.

Mesmo sem conhecer a fundo uma pessoa, os recrutadores e líderes conseguem ter pistas se ela pode ou não ter propensão a atrasos e adiamentos. “Em processos de seleção que envolvem dinâmica de grupo, um candidato que tem problemas para administrar o tempo destinado às atividades, fica indeciso sobre por onde começar ou pula as tarefas mais complicadas provavelmente tem esse perfil”, diz Márcia Almströn, diretora de recursos humanos, estratégia e talentos do ManpowerGroup, de São Paulo.

Para ela, o perigo desse tipo de comportamento é a espiral de frustração que pode criar. “Quando se fala em procrastinação crônica, quanto mais o hábito se repete, mais desmotivado o profissional fica e mais tende a procrastinar”, afirma.

Medo de errar

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A maioria dessas pessoas não tem claro por que protela tudo. Mesmo os especialistas definem o fenômeno como resultado de uma conjunção de fatores: falta de motivação e de energia, desorganização, preguiça, ausência de preparo. “O medo de entrar em contato com as próprias limitações e fraquezas também faz muita gente justificar o desempenho ruim e o insucesso com o excesso de tarefas”, diz Pamela Magalhães, psicóloga clínica, de São Paulo.

A professora universitária de ciência da computação Rosa Cândida Cavalcanti, de 61 anos, de Recife, ficava incomodada quando ouvia dos amigos que deveria trabalhar menos. “Sabia que minha agenda não estava mais cheia do que o normal, mas me sentia sempre afogada nas pendências. A época crítica foi durante o doutorado: deixei de caminhar e meditar, coisas que me dão prazer, e cheguei a ficar três noites sem dormir tentando colocar trabalho e estudos em dia”, diz.

Depois de fazer um curso de produtividade e passar um pente-fino na rotina, listando tudo o que faltava concluir e destrinchando quanto tempo gastava em cada atividade, Rosa descobriu a origem do problema. “Percebi que assumia responsabilidades que não eram minhas e as passava na frente do que tinha de ser feito, talvez por medo de que as entregas dos demais não atendessem à minha expectativa de perfeição”, afirma. Não foi fácil, mas a professora garante que aprender a dizer “não” e criar processos para a realização de tarefas, em casa e no trabalho, fez a diferença para retomar as rédeas do próprio tempo. “Hoje acordo antes das 6 da manhã e produzo o dia inteiro cheia de disposição. Quando você para de empurrar para a frente e encara o que precisa resolver, começa a viver de verdade.”


Força de vontade

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Numa pesquisa realizada via internet com 3 100 pessoas que resultou no livro Equilíbrio e Resultado (Sextante, 39,90 reais), o especialista em gestão de tempo e produtividade pessoal Christian Barbosa descobriu que 61% dos entrevistados costumam procrastinar porque se perdem na internet, navegando em sites, blogs e mídias sociais. Esse foi o caso de Luisa Nader, de 23 anos, advogada da GT Lawyers, de São Paulo.

O desperdício de tempo na internet contribuiu, por exemplo, para que ela fosse reprovada na primeira tentativa de passar no exame da Ordem dos Advogados do Brasil. “Sempre que sentava para estudar e uma página demorava para carregar ou deparava com uma tarefa difícil de realizar, eu aproveitava para checar minha timeline ou responder a uma mensagem no WhatsApp, achando que estava, na verdade, aproveitando o tempo. Só que os 2 minutos que eu deveria levar acabavam virando meia hora sem que eu percebesse. Depois, retomar a concentração era muito mais difícil”, diz. Quando notou que esse comportamento estava gerando prejuízos, tentou mudar a rotina e ajustar o foco para concluir as tarefas. “Mas ainda tenho dificuldade no durante: fico ansiosa e perco a atenção temporariamente. Só quando estou em cima do prazo consigo completar o que preciso”, afirma.

 

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