Trata-se de um título peculiar. Ao comprar um, você leva 240, cada qual com uma data de vencimento diferente. Conforme eles vão vencendo, lá na frente, você recebe a grana corrigida pela inflação mais os juros contratados no momento da compra.
240 é a quantidade de meses que formam 20 anos. O dinheiro pinga uma vez por mês, ao longo de duas décadas. É assim porque o Tesouro criou esse título como uma ferramenta para complementar a aposentadoria.
Num paralelo com a biologia, o RendA+ é um gênero de título, dividido em várias espécies. A diferença entre cada uma delas está na quantidade de tempo que você vai ter de esperar até que os pagamentos comecem. Aí vale a regra universal: quanto mais longo for o título, mais juros você acumula.
O mais curto entre eles é o RendA+2030. O número mostra o ano de início dos pagamentos mensais; em outras palavras, é o vencimento dos primeiros títulos daquela multidão de 240. O fluxo de pagamentos vai de janeiro de 2030 até dezembro de 2049 – 20 anos cheios.
Exemplo prático: quem comprou um RendA+2030 no dia 16 de agosto de 2023 contratou um rendimento de 5,25% ao ano. Vamos dizer que essa pessoa investiu R$ 100 mil. O que ela vai receber a partir de 2030 são 240 pagamentos mensais de um valor equivalente a R$ 919 em dinheiro de hoje. O valor nominal, quer dizer, o montante que vai entrar de fato, será outro. Bem maior que esse. Só que não faz diferença.
Se a inflação média daqui até janeiro de 2030 for de, sei lá, 5% ao ano, o primeiro pagamento será de R$ 1.172. Se for de 40% ao ano, R$ 4.937. Mas e daí? Seja qual for o valor nominal, cada um deles terá o mesmo poder de compra que R$ 919 têm neste momento. Nem mais, nem menos.
Os pagamentos também são corrigidos pela inflação, mês a mês. E aí vale a mesma regra. Se a inflação explodir, o valor nominal do que você recebe cresce na mesma toada. Então só vamos falar aqui em valores de hoje.
Bom, em valores de hoje, as parcelas serão sempre de R$ 919. 240 vezes R$ 919 dá R$ 220.560. Lembre-se de que a pessoa investiu R$ 100 mil. O ganho acumulado dela, então, será de 120% mais a inflação do período. É o que os economistas chamam de ganho real – aquele acima da inflação.
A matemática por trás do rendimento desse título é complexa. Como dissemos, todo o investimento ali fica dividido em 240 títulos diferentes, cada um com um vencimento. Ao colocar R$ 100 mil na coisa, R$ 416 vão para um papel que rende 5,25% ao ano até janeiro de 2030, outros R$ 416 estão em um que vence em fevereiro de 2030… E assim por diante até o último título, que vence em dezembro de 2049.
Acontece que R$ 416 a 5,25% anuais até 2030 se transformam em R$ 565. Até 2049, dá muito mais: R$ 1.574. O que o sistema do Tesouro faz, então, é calcular o valor médio ao qual você teria direito e te pagar essa quantia todo mês. No caso de um investimento de R$ 100 mil num RendA+2030 a 5,25% essa média dá justamente R$ 919 – em valores de hoje.
A chave para o alto rendimento, portanto, é o tempo absurdo que uma parte da grana no RendA+ acumula em juros compostos. Então, claro: quanto mais longo o título, mais você ganha.
O mais extenso é o RendA+2065. Como o finalzinho dele só vence em 2084, o juro real que ele garante não tem concorrência. É coisa de outro planeta. Se você tiver um filho de 20 anos, por exemplo, e quiser garantir a aposentadoria dele, fica barato.
De verdade: coloque R$ 100 mil hoje nesse RendA+ hiperlongo e pronto. Seu filho passará a receber R$ 5.745 por mês em valores atuais quando tiver 62 anos. E a última parcela vai cair quando ele tiver 82. Note que R$ 5.745 X 240 dá R$ 1,37 milhão**. Ou seja: um ganho real de quase 1.300%. É isso. Quando descobrirem a pílula da vida eterna, você já sabe qual título comprar.
*Data de início dos pagamentos, o vencimento final se dá 20 anos depois.
**Os valores não incluem centavos, para tornar o texto mais palatável. Isso traz alguma imprecisão aos valores finais.