Todo o dinheiro que circula na economia nasce nos bancos – na forma de empréstimos para companhias e pessoas. E a Selic é o preço que os bancos pagam pelo dinheiro que vão emprestar na praça. Pagam para quem? Para eles mesmos.
Bancos fazem empréstimos entre si todos os dias, para garantir liquidez. Pode acontecer de um banco terminar o dia no vermelho porque levou um calote, por exemplo. E rola também de um banco encerrar o expediente com mais grana do que precisava. É o normal. Só que banco não tem cheque especial, quem tá no negativo precisa pedir um empréstimo para zerar o saldo. Nisso, o que tinha dinheiro sobrando empresta para o outro – e esse outro paga no dia seguinte. O nome desse mercado de empréstimos é “overnight”, numa alusão aos pagamentos da noite para o dia.
Os bancos que pegam empréstimo não estão “no negativo”. Todos eles mantêm poupanças bilionárias na forma de títulos públicos. O que a instituição devedora faz, então, é deixar esses títulos como garantia para o empréstimo que pegou (vale mais a pena do que vender os títulos na correria).
Quem rege esses empréstimos interbancários com garantia é o Sistema Especial de Liquidação e Custódia, operado pelo Banco Central. “Selic” é a sigla do tal sistema. E a “taxa Selic” é a média de juros que os bancos cobram uns dos outros lá dentro.
Mas, ei: não é o BC que determina a Selic? De fato. Quando o Banco Central quer que a Selic caia, ele entra no overnight emprestando dinheiro aos bancos “normais” a juros menores (dinheiro novo, que ele emite quando bem entender). Isso cria uma concorrência artificial. E aí todos os bancos passam a cobrar menos uns dos outros.
Quando o BC deseja subir a Selic, ele faz o oposto: age como um tomador de empréstimos no overnight, pagando juros maiores que os dos outros bancos. Com isso, os outros emprestadores também sobem seus juros.
A Selic é o “juro básico da economia” por ser o menor que existe para um banco que deseja captar dinheiro. Os juros que ele vai cobrar dos clientes sempre serão maiores do que ela (ou maiores do que as previsões para qual será a Selic daqui a 20 anos no caso de um financiamento de 20 anos).
Quando o BC sobe a Selic, ele deixa o dinheiro mais caro para os bancos. Passa a circular menos grana na praça. E com isso combate-se a inflação – se há menos dinheiro por aí, os preços passam a subir menos. Já baixar a Selic significa fomentar a economia, sempre observando como a inflação se comporta. Se ela passar a subir de novo, com força, o jeito será subir o juro básico de novo.