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O que é o minidólar?

Minicontratos não são "investimentos para quem tem perfil agressivo", como dizem por aí. Trata-se de jogo mesmo. Entenda.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 20 jun 2023, 10h08 - Publicado em 7 jun 2023, 05h12
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 (Angela di Nubila/VOCÊ S/A)
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É ​​uma nota de dólar pequenininha… Brincadeira. O mini é uma ferramenta que permite apostar na alta variação da moeda americana com dinheiro emprestado. Vamos dizer que estamos em junho. Você pode fazer uma fé em quanto estará o dólar em julho, agosto, setembro… Vale sempre o primeiro dia útil de cada mês. 

Não se trata de uma aposta seca, tipo “boto R$ 1 mil que o dólar vai fechar a R$ 5,10  no dia 1º agosto; tá pagando quanto?” A coisa faz parte da fauna dos mercados futuros. No mercado futuro de petróleo, por exemplo, você paga hoje para receber seus barris no mês que vem. E o preço desse barril com entrega lá na frente varia o tempo todo ao longo do dia, igual o preço à vista.

Com o minidólar é a mesma coisa. A cotação para julho, agosto, setembro ou seja lá para qual mês for varia sem parar, tal qual aquela que aparece no Google, a do dólar à vista. Então como é que rola a aposta?

Vamos lá. Você acha mesmo que o dólar vá fechar a R$ 5,10 no dia 1º agosto? Quer de fato apostar nisso? Então entre no home broker e digite “WDOQ23”. Esse é o código para o dólar “com entrega em agosto”. Vamos dizer que o preço esteja em R$ 4,90. Bom, se você comprar 10 mil dólares no mercado futuro a esse preço, vai gastar R$ 49 mil.

Aí, se agosto chegar e a moeda americana estiver a R$ 5,10, seu saldo final será de R$ 51 mil. Não existe uma “entrega” dos dólares. O que você ganha, caso vença a aposta, é a diferença entre a cotação inicial e aquela que rolou de fato no primeiro dia útil do mês que você escolheu. Nesse exemplo, temos um lucro de R$ 2 mil. Se o dólar tivesse ido a R$ 5,12, seriam R$ 2,2 mil.

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Só tem um detalhe: o que você acabou de ler é mentira, em parte. Uma operação com minicontratos igual a essa não custa R$ 49 mil. Custa R$ 1. Ou zero, dependendo da corretora. 

Ou seja: o operador do nosso exemplo ganhou R$ 2 mil do nada. Mas, como sempre, não existe almoço grátis. Se o dólar em agosto tivesse não subido, mas caído, na mesma proporção, nosso operador fictício teria transformado R$ 0,00 numa dívida de R$ 2 mil. Que terá de ser paga.

A mágica, ou a maldição, acontece justamente porque o minidólar é uma “operação alavancada” – se dá com dinheiro emprestado pela corretora. Para entender melhor, pense em ações. Quando você compra uma ação que custa R$ 50 a unidade, você digita no home broker a quantidade que quer, tipo “10”, e aí a corretora puxa R$ 500 do seu saldo e liquida a operação. Normal. 

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Quando o assunto é minidólar, o que você compra não são unidades de dólares. São “contratos” equivalentes a US$ 10 mil cada um. Sempre US$ 10 mil mesmo. E sempre em reais – como os R$ 49 mil lá do exemplo. Compre 10 unidades disso, e o que você leva é um empréstimo em reais equivalente a US$ 100 mil (10 contratos de US$ 10 mil) pela cotação do dólar à vista. Para facilitar, vamos dizer que o dólar à vista está também a R$ 4,90. E aí é isso: você recebe R$ 490 mil emprestados da corretora para especular sobre o valor futuro do dólar. 

Se a aposta lá do dólar a R$ 5,10 em agosto der certo nesse caso, você ganha R$ 20 mil do nada – ou mais. Se der errado, fica com uma dívida indigesta para pagar. Mais: se você comprou às 10h da manhã com o dólar para agosto a R$ 4,90 e, às 17h, ele tiver subido 2%, para R$ 4,99 (algo normal), você ganha 2% em cima de R$ 490 mil. Dá R$ 9.800. Em um dia. É por isso que chovem vídeos sobre como fazer day trade em minicontratos. Eles vendem o sonho de produzir toneladas de dinheiro em questão de horas, com zero esforço. Só não avisam devidamente que a chance de perder é igual. 

Mas a coisa não custa nada mesmo? Qualquer um pode chegar e pegar meio milhão em empréstimo para jogar nesse cassino legalizado? Claro que não. As corretoras pedem alguma garantia – o dinheiro que você tem lá na forma de ações, fundos, títulos públicos ou seja o que for. Só que elas não pedem garantia cheia. O usual é 15% do valor total de cada contrato. Assim: quer adquirir 10 contratos, a R$ 490 mil? Beleza. Mas você precisa ter pelo menos 15% disso na corretora. Nesse caso, pelo menos R$ 73,5 mil. 

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A praxe entre as corretoras é cancelar a operação caso o prejuízo chegue a coisa de 70% do patrimônio que você tem lá – e cobram uma tarifa pelo serviço de encerrar sua posição antes de uma tragédia completa. De novo: a chance de que a prática de day trade com minicontratos dilapide suas reservas é real. Pois isso não é investimento. É jogo.  

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