É comprar uma empresa que não estava à venda. O primeiro passo é sair caçando ações da companhia na bolsa em modo vida louca, com o objetivo de tomar o controle acionário e virar o dono da coisa toda. É o que Elon Musk fez com o Twitter. Passou semanas comprando papéis da empresa na bolsa de NY, das mãos de pequenos investidores, até adquirir 9,2% do total. Tornou- se então o segundo maior acionista da rede social, atrás apenas do Vanguard Group, um mega fundo de investimentos (10,3%).
Aí deu o passo seguinte. No dia 14 de abril mandou uma carta para a diretoria da empresa oferecendo US$ 54,20 por ação para comprar todo o resto – um prêmio de 18% sobre o valor do papel naquele momento (US$ 45,85). A operação custaria US$ 43 bilhões a Musk.
De cara, a diretoria não gostou. A companhia, afinal, não estava à venda. Só que Musk poderia continuar comprando ações do Twitter na bolsa até ter poder de voto suficiente para ele mesmo aprovar a compra (com 50,01% o cara poderia fazer isso sem consultar nenhum outro acionista com cadeira na diretoria).
Para evitar isso, o Twitter acionou uma poison pill. “Pílula de veneno” é um jeito que a empresa dá para evitar uma aquisição hostil. Há vários desses jeitos. Aqui, fizeram o seguinte: se a fatia de Musk chegasse a 15%, a empresa emitiria novos papéis aos demais acionistas, a preços baixíssimos. Isso faria o bolo de ações crescer, diluindo o pedaço de Musk.
Mas não rolou. No dia 25 de abril a diretoria do Twitter acabou aceitando a oferta (até o fechamento desta edição, faltava Musk pagar, então o negócio ainda estava em aberto).
No Brasil, o caso mais recente de aquisição hostil foi a investida de Marcos Molina, dono da Marfrig, sobre a BRF. Molina comprou 33,25%, e se tornou o maior acionista – bem à frente da Previ, a segunda maior, com 6,1%. Um assombro, mas não o bastante para lhe dar o controle total (aí, só com mais de 50%). Molina provavelmente não tentou os 50% mais um porque o estatuto da BRF tem uma poison pill: se alguém chegar a 33,3% é obrigado a fazer uma oferta razoável por todas as outras ações. Ou seja, uma operação cara demais para quem tem todos os parafusos no lugar – o que nem sempre é o caso de Elon Musk.