O “ordinária”, de ON, não é algo pejorativo. Significa “normal”, “comum”. A PN, então, seria “anormal”, certo? Certo. É que o normal numa ação é ela oferecer duas coisas: uma fatia dos lucros que a empresa produz e direito de voto nas assembleias de acionistas. Já a preferencial só dá direito a uma dessas benesses: a parte do dinheiro. Nada de voto.
Para entender isso direito, é preciso examinar melhor o que é uma ação. Uma ação é uma parte de uma empresa. Vamos dizer que você tenha uma companhia e queira dinheiro para ampliar o negócio. Um jeito de levantar grana é vender partes da sua empresa no mercado. Tipo: você divide sua empresa em 10 bilhões de partes (por isso que “ação” em inglês é share – “parte”). Aí vende 4.999.999.999 delas na bolsa e segura 5.000.000.001 com você.
Você deixa de ser o único dono da sua empresa. Mas ok: segue no controle. Os outros acionistas, mesmo juntos, terão menos votos do que você. Se você quiser ser o CEO, beleza. Será eleito com seus próprios votos. Só tem um problema: caso você venda mais das suas ações para levantar dinheiro (ou para comprar uma lancha, vai saber), perde o poder que tinha.
Para evitar esse tipo de dissabor, e levantar ainda mais dinheiro, dá para dividir as partes da empresa em duas classes. Se das 10 bilhões de partes, 5 bilhões forem ON e 5 bilhões forem PN, sem direito a voto, beleza: você consegue vender 7,5 bilhões de ações (todas as PN e metade menos uma das ON). Ou seja: levanta 25% mais dinheiro, e mantém o controle intacto.
E que vantagem Maria leva ao comprar uma ação PN? Tradicionalmente, uma fatia maior dos dividendos. O Bradesco, por exemplo, paga um fixo de R$ 0,017 por mês para cada ação ON (BBDC3); e R$ 0,019 para cada PN (BBDC4). Por isso, as PNs costumam ser as ações mais negociadas. Dão mais dinheiro, afinal. Mas isso não acontece sempre. A Petrobras, por exemplo, paga o mesmo tanto para as ONs e as PNs – de modo que o acionista-chefe (o governo, dono de 50,26% das ONs) se dê bem.
A divisão entre ONs e PNs é antiga (começou nos EUA do século 19), mas tem caído em desuso. Hoje a maior parte das grandes companhias só lança ações ON mesmo – o mercado tende a considerá-las mais transparentes, já que muitas vezes elas não têm um “ditador”, um controlador único. Das 87 empresas que fazem parte do Ibovespa, o clube das mais negociadas do país, 60 são feitas 100% de ações ON.