dólar do século 18 era o peso espanhol. A moeda espanhola da época, vale notar, não se chamava “peso”, mas “real” – numa alusão à realeza ibérica. “Peso” era o nome de um moedão que equivalia a oito reales. Ela se tornou a favorita do comércio internacional por ser feita de prata com altíssimo grau de pureza – 92% a 98%; contra 50% ou menos da concorrência.
Na época, media-se a força de uma moeda pela quantidade de metal precioso que houvesse ali. E os espanhóis podiam se dar ao luxo de produzir uma moeda metálica forte, de aceitação garantida planeta afora, por cortesia do Cerro Potosí: o maior depósito de prata da história, que fazia o favor de se localizar na atual Bolívia – um território que era colônia da Espanha.
A partir de 1760, o governo espanhol passou a cunhar o peso com um discreto símbolo nas laterais. Ele trazia as letras P, T, S e I (de Potosí), como um certificado de procedência.
As letras apareciam sobrepostas, formando algo definitivamente parecido com um cifrão. Como o peso era o rei do comércio internacional, em pouco tempo a referência a Potosí gravada se tornaria o símbolo universal de dinheiro – o cifrão moderno.
Outra tese diz que o “$” é simplesmente uma abreviação da palavra “pesos”. Assim: documentos comerciais das décadas de 1770 e 1780 mostram o uso da sigla “Ps” como símbolo de dinheiro, dado o domínio do moedão espanhol.
Isso acontecia, inclusive, nos EUA (as primeiras moedas de prata denominadas como “dólar” só viriam em 1792). Com o tempo, numa época em que os documentos financeiros eram escritos à mão, o “P” e o “S” teriam se fundido, com esta última letra empoderando-se sobre a primeira.
Quem defende essa tese usa como evidência um recibo escrito em 1778 pelo mercador Oliver Pollock, famoso por ter sido um dos financiadores da revolução americana. Ali, o “P” e o “S” aparecem sobrepostos, formando basicamente um $ – seria indício da história evolutiva do símbolo.
Mas a ideia de que o cifrão ganhou sua forma atual nos EUA (predominante nas fontes clássicas, como a Enciclopédia Britânica) não se sustenta. Porque o símbolo já era presente em Portugal – também usuário do peso de oito reais espanhol, naturalmente. Um documento de 1775 atesta: “Recebemos do senhor João do Carmo de Coimbra a quantia de 270$000”.
Conclusão: seja vindo do símbolo de Potosí, seja uma versão que surgiu a partir da sigla Ps, o fato é que em 1775 o $ já estava em uso nas terras lusitanas.
Só note que ele aparece no meio do valor (“270
Só note que ele aparece no meio do valor (“270$000”). É que os portugueses usavam o símbolo como um separador decimal.
0”). É que os portugueses usavam o símbolo como um separador decimal.
E é daí que vem o nome “cifrão”, veja só. Esse termo só existe nos países de língua portuguesa (no resto do mundo é “sinal de dólar” – até na Espanha). “Cifrão” vem do árabe “sifr” – que significa “zero”, e que deu origem ao próprio termo “zero”. Como os árabes ocuparam a Península Ibérica entre os séculos 8 e 15, o que não falta são referências que eles deixaram naquilo que se tornaria o nosso idioma.
Nesse caso, “sifr” virou “cifra”, uma palavra que adquiriu diversos significados, mas que nasceu de fato como o termo árabe para “zero”. Dá para dizer, no fim das contas, que o termo “cifrão” significava algo como “zerão” para os portugueses – um símbolo que entrava no lugar do ponto quando a ideia era representar uma quantia financeira.
Também há teses estapafúrdias sobre a origem do cifrão, como a de que ele representa as iniciais dos EUA (US, com as letras sobrepostas). Não há registro histórico que embase isso – ainda mais levando em conta que Portugal já usava o símbolo de forma nítida antes da fundação dos EUA.
Outra versão manca é a que está no site da Casa da Moeda do Brasil. A página diz que o símbolo foi criado pelos árabes no ano 711. O cifrão representaria o “caminho sinuoso” que as tropas islâmicas fizeram para invadir a Europa. Os dois traços seriam as Colunas de Hércules (nome tradicional do Estreito de Gibraltar, que separa a Península Ibérica do Marrocos). Para comemorar a conquista, os líderes árabes teriam mandado cunhar moedas comemorativas com o cifrão. Não faz sentido. A primeira moeda com algo remotamente parecido com um cifrão é de fato o peso de ocho reales – a coisa que, ao que tudo indica, deu mesmo origem ao símbolo de dinheiro.