em só de controvérsias vive o mercado cripto: mas todo dia aparece uma nova. A mais recente é a WLD, criptomoeda do projeto Worldcoin, lançado em julho deste ano.
Desenvolvida por Sam Altman, criador do ChatGPT, a iniciativa existe desde 2019, mas só foi lançada oficialmente agora. Na primeira hora, a cripto chegou a valorizar 43%, operando a US$ 2,69. Desde então, tem oscilado entre US$ 2,10 e US$ 2,50.
Altman e seu sócio Alex Bania afirmaram, em uma carta aberta, que o projeto busca criar uma “renda básica universal”, seguindo a ideia de que cada pessoa no mundo tem direito a uma fatia predeterminada da cripto deles. Além disso, a dupla queria encontrar uma solução para separar humanos de inteligência artificial na internet, um problema turbinado por eles mesmos com o ChatGPT, mas isso é detalhe.
A Worldcoin quer ser uma criptomoeda biométrica – usará um sistema chamado Proof of Humanity (“prova de humanidade”).
Funciona assim: para ter acesso e fazer transações com a WLD, o usuário precisa entrar no World ID, um sistema de identificação global que interliga todos os usuários da cripto. O custo desse acesso são os olhos da cara — literalmente. Para entrar na brincadeira, você precisa provar que é humano, e isso vai ser feito pelo escaneamento da sua íris, em um dispositivo físico chamado “Orb”. O problema é que a íris é uma informação biométrica, dado sensível.
Os Orbs estão disponíveis em 18 países até agora – há três deles em São Paulo. A iniciativa não foi lançada nos EUA.
A imagem da íris comprova que você é humano (daí o nome do processo). Em troca, o usuário recebe 25 WLD, o equivalente a R$ 290 pelo preço de mercado atual. A partir daí, já é possível fazer transações pelo aplicativo da cripto, o World App.
Dados da Worldcoin.org mostram que 2 milhões de pessoas já entraram no esquema, que levantou US$ 115 milhões em uma rodada de investimentos liderada pela Blockchain Capital.
Mas não é só grana que a Worldcoin tem atraído. Menos de uma semana depois do lançamento, reguladores europeus já encontraram problemas na iniciativa, justamente pelo escaneamento da íris. Em tese, quem tiver esse dado pode se passar por você para burlar algum sistema de segurança que use essa tecnologia.
O criador do ChatGPT, de qualquer forma, diz que a imagem da íris é destruída, e o que fica é um código único, que dá acesso aos sistema da Worldcoin.
Seja como for, o que promove mais ceticismo é a ambição do projeto, que pretende interconectar o mundo com uma moeda única e privada. É algo que o Bitcoin tem tentado em seus 15 anos de existência, sem sucesso. Enquanto o seu Zé da padaria não aceitar cripto em troca de cafezinho, esse tipo de ideia seguirá como uma utopia. O futuro da economia global está nas mãos dele. Como sempre esteve.