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Manter um emprego precário pode acabar com sua saúde mental, diz estudo

Por longos períodos, a sensação de instabilidade pode tornar funcionários mais deprimidos, autocentrados e menos escrupulosos. Entenda.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 24 mar 2021, 19h17 - Publicado em 24 mar 2021, 19h12
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 (Klaus Vedfelt/Getty Images)
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Trabalhar por quatro anos em um emprego instável (onde o estresse é constante e a sensação de que a demissão pode bater à porta vive no calcanhar) é suficiente para que um funcionário sofra danos psicológicos. E isso inclui mudanças de personalidade. Foi o que descobriu um estudo chefiado por um pesquisador da Universidade de Leeds, na Inglaterra, em parceria com universidades da Austrália.

A pesquisa, publicada na revista científica Journal of Applied Psychology, analisou dados de 1.046 pessoas, coletados na Austrália durante nove anos. Os participantes foram acompanhados por um censo feito pelo governo australiano (o Household, Income and Labour Dynamics, ou HILDA, da sigla em inglês), que investigou o bem-estar da população sob a ótica pessoal e profissional.

Para definir um trabalho como precário (ou instável), o levantamento considerou aspectos como a autonomia do funcionário, o tempo que seu emprego consome e quanto estresse ele passa trabalhando. No primeiro, quinto e nono anos, a pesquisa registrou também qual era a personalidade dos voluntários – uma forma de mensurar o impacto do trabalho em seu humor.

Mas o que significa, afinal, ter um emprego precário, sem estabilidade? Não estamos falando, aqui, de trabalhos autônomos, que não mantêm uma relação de emprego tradicional e, por tabela, costumam ser sinônimo de instabilidade.

Uma tendência atual do mercado é tornar as relações de trabalho cada vez menos reguladas e estáveis. Basta observar a crescente de práticas como terceirizações, offshoring, contratos com menos vínculos trabalhistas – e, vez ou outra, demissões em massa. Esses fatores, de acordo com o estudo, podem aumentar a insegurança dos funcionários em relação ao futuro, e prejudicar a forma como as pessoas enxergam seu trabalho.

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Na pesquisa, os participantes tiveram que julgar afirmações como “Tenho um futuro garantido no meu trabalho”, “A empresa para a qual trabalho ainda estará no mercado daqui a 5 anos” ou “Eu me preocupo com o futuro do meu trabalho”, por exemplo. Para cada uma das perguntas, eles tinham de transformar suas opiniões em notas de 1 a 7 (discordo plenamente e concordo plenamente).

Cientistas definiram como “instabilidade crônica” quando um funcionário permaneceu num trabalho considerado precário por quatro ou cinco anos, no mínimo.

Os resultados mostraram que ficar tanto tempo em um trabalho considerado instável pode ser um golpe direto na instabilidade emocional. Trabalhos precários, quando mantidos por longos períodos, estavam ligados a alterações em três traços de personalidade.

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O primeiro deles (neuroticismo) envolve uma chance maior de sofrer problemas como ansiedade, depressão e outros sentimentos negativos. O segundo, está ligado à menor capacidade de ser gentil e cooperar com o grupo (traço conhecido pela ciência como afabilidade). E o último, implica em menos desejo em fazer o trabalho bem feito e levar as obrigações com os outros a sério (diligência, no linguajar científico). Tudo aquilo que um chefe menos deseja na relação com um funcionário.

A boa notícia é que, apesar de mexer com traços importantes do psicológico dos voluntários, ter um trabalho-problema não atrapalhou sua personalidade por completo.

A pesquisa mostrou que pessoas extrovertidas mantiveram sua facilidade para se comunicar apesar da vida profissional turbulenta. Aqueles mais sonhadores, que não tem problemas em se arriscar e sair da zona de conforto, permaneceram com o mesmo espírito. Esses traços de personalidade refletem o que a psicologia chama de plasticidade – ou o quanto alguém é capaz de se adaptar às circunstâncias.

Moral da história? Estar em um trabalho do cão, que não te motiva, não anula quem você de fato é. E perceber isso, mesmo quando tudo joga contra, pode ser o empurrão que falta para tentar partir para outra.

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