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O problema em ser perfeccionista

Antes visto como qualidade inquestionável, o perfeccionismo pode prejudicar a produtividade, as relações e a capacidade de se adaptar a mudanças.

Por Fernanda Colavitti
Atualizado em 28 Maio 2021, 12h20 - Publicado em 28 out 2020, 16h00
Diligent manager lying on the floor in office passageway adjusting pins (Westend61/Getty Images)
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Autointitular-se perfeccionista durante uma entrevista de emprego, atualmente, equivale a admitir ter altos níveis de estresse e ansiedade no trabalho, e nenhuma vantagem no desempenho das tarefas em comparação aos colegas “não perfeccionistas”.

Essa é a conclusão de um estudo divulgado no fim do ano passado por pesquisadores das escolas de negócios da Universidade da Flórida, do Instituto de Tecnologia da Georgia e da Universidade de Miami.

Foram comparados os resultados de 95 pesquisas sobre o tema, que envolveram quase 25 mil profissionais, desde 1985. “De maneira geral, os dados mostram que o perfeccionismo provavelmente não é algo construtivo para o trabalho”, afirmaram os autores do estudo em um artigo publicado pela Harvard Business Review. 

Essa visão negativa sobre a busca da perfeição, que durante anos foi considerada uma qualidade profissional, está sendo cada vez mais propagada no mundo corporativo. “Dependendo da maneira como essa característica se manifesta, ela pode diminuir a produtividade e a capacidade de adaptação”, afirma a consultora e coach executiva Caroline Marcon.

Segundo a especialista, o perfeccionismo atrapalha porque faz com que o profissional invista tempo e energia desproporcionais para entregas simples, deixando de focar em novas soluções. “A pessoa tem dificuldade em delegar e aceitar sugestões, pois acredita que ninguém faz melhor do que ela”, conclui.

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A gerente de analytics Renata Marins, 31 anos, de São Paulo, começou a perceber esses problemas no começo de 2017, quando foi promovida a um cargo de gestão. “Saí da execução e fui para o planejamento dos projetos. Eu precisava ver o todo, não podia mais ficar nos detalhes, mas não conseguia desapegar, achava que, se não fosse do meu jeito, não iria ficar bom, então trabalhava muitas horas para dar conta da tarefa dos outros e da minha”, diz.

Resultado: qualidade do ambiente de trabalho e saúde prejudicadas. “Pensei até em me demitir, mas acabei tirando férias para refrigerar as ideias. Por pouco não tive burnout”, lembra.

De fato, essa e outras condições clínicas como depressão, ansiedade, compulsão alimentar e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) também vêm sendo associadas à busca pela perfeição em pesquisas recentes. Esses resultados contribuem ainda mais para o fim da exaltação da cultura do perfeccionismo no mundo corporativo. 

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Ponto de equilíbrio

Esse tipo de desconstrução leva tempo, e precisa ser trabalhada diariamente, tanto pelas empresas quanto pelos funcionários. Do lado dos empregadores, uma boa forma de desmistificar o perfeccionismo é utilizar o princípio do 80/20, ou seja, focar nos 20% que gerarão 80% de valor para o cliente, aconselha Caroline. “Perguntas como ‘qual o valor gerado para o cliente’ e ‘qual o impacto que você gerou com a entrega’ ajudam o profissional a pensar de maneira mais orientada para a solução e menos perfeccionista”, afirma. Segundo ela, muitos recrutadores ainda não têm a dimensão do impacto negativo do perfeccionismo. 

O ponto é entender que o foco em excelência, que em si é uma qualidade, pode se tornar um problema se for superutilizado. Renata conseguiu chegar a essa conclusão a tempo. “Voltando das férias, decidi que precisava fazer um balanço da vida”, conta.

Contratou um coaching para ajudá-la a delegar atividades, e a entender que está tudo bem se o trabalho não estiver perfeito, mas bem feito. “Quando consegui entender que eu não deveria me preocupar tanto com a parte que não me cabe, senti uma grande transformação interna que se refletiu na minha qualidade de vida e no ambiente de trabalho.” 

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Perfeccionismo x excelência

O limite entre os dois é a produtividade, segundo a coach especializada em carreira e estilo de vida Juliana Carelli. Ela explica que, enquanto a excelência pressupõe um equilíbrio entre fazer o melhor que você pode com os recursos que tem (tempo, equipe, estrutura), perfeccionismo é um dos principais caminhos para achar que nunca nada está bom o suficiente.  São sinais vermelhos quando o profissional:

  1. Perde prazo de projetos e relatório, pois nunca acha que a excelência foi atingida. 
  2. Compara-se muito aos colegas, devido à insegurança gerada pela busca da perfeição.
  3. Tem dificuldade de relacionamento, por não valorizar o que os outros fazem. 
  4. Critica demais o trabalho da equipe ou centraliza muito as atividades
  5. Evita ao máximo o erro, preferindo adotar soluções testadas e aprovadas. 
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