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Vale paga dobro da Selic em dividendos e ofusca onda sustentável

Ações da mineradora dispararam quase 6% após anúncio de remuneração gorda a acionistas, mas analistas dizem que papel ainda sofre efeitos de Brumadinho

Por Tássia Kastner
11 set 2020, 18h34
 (John W Banagan/Getty Images)
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Você prefere ter razão ou ser feliz? E ser sustentável ou ganhar dinheiro? Por mais que a sigla do momento no mundo financeiro seja o ESG (para compromissos de empresas com sustentabilidade social, ambiental e de governança), o investidor decidiu nesta sexta-feira (11) ganhar dinheiro. E com a Vale.

O Ibovespa teve novo dia de perdas (-0,48%) acompanhando a liquidação das ações das big techs nos Estados Unidos, mas a Vale, bem pimpona, avançou quase 6%. A explicação? Anunciou pagamento de dividendos.

A companhia vai distribuir R$ 2,40 por ação no final do mês, o que na conta dos analistas do mercado equivale a um rendimento de 4% –a Selic, não custa lembrar, está em 2%. E quando dinheiro pinga na conta, o investidor fica feliz. Fica ainda mais se ele achar que de onde veio esse, tem mais.

Um relatório do banco Credit Suisse, citado pelo Bom Dia Mercado, apontou que há expectativa de que a mineradora seja capaz de pagar dividendos maiores nos próximos períodos. E que dividendos extraordinários “em períodos subsequentes estão parecendo cada vez mais prováveis e os rendimentos potenciais estão ficando grandes demais para serem ignorados”.

Essa dinheirama veio de uma combinação de dólar alto (a R$ 5,30) e preço recorde do minério de ferro à medida em que a China estimula a economia no pós-Covid. Nada indica que esse cenário vá mudar no curto prazo.

Mas a mineradora ainda é a responsável para tragédia de Brumadinho, de janeiro do ano passado. O rompimento da barragem da empresa matou 270 pessoas, deixou 11 desaparecidos e destruiu uma comunidade inteira. Isso depois do rompimento da barragem de Mariana, em 2015.

Dito isso: ESG é bonito, mas bom mesmo é lucro?

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O analista Luis Sales, da corretora Guide, afirma que não é exatamente assim. Desde Brumadinho, o preço da ação da Vale estaria sendo negociado com desconto na bolsa em relação a outra mineradoras concorrentes. Isso seria um reflexo do temor de investidores de que uma nova tragédia ainda pode ocorrer.

Após Brumadinho, a Vale chegou a anunciar a suspensão do pagamento de dividendos, uma forma de reservar caixa para fazer frente a indenizações, multas e processos pelo rompimento da barragem. Mas terminou aquele ano com a empresa separando mais de R$ 7 bi para os acionistas. Era mais do que tudo que a empresa havia empenhado para indenizar as vítimas do rompimento da barragem, como mostrou reportagem da Folha.

Na época, a notícia pegou mal, mas a empresa se justificou dizendo que o pagamento continuava suspenso. O valor foi creditado no mês passado.

A euforia com a Vale, capaz de fazer o mais sustentável dos investidores fechar os olhos, tem ainda uma outra explicação. Muitas empresas (aqui e lá fora) suspenderam o pagamento de dividendos neste ano para reforçar o caixa no período da pandemia. 

O exemplo mais concreto é o dos bancos, que foram proibidos pelo Banco Central de pagar dividendos acima do mínimo obrigatório na pandemia, uma forma de evitar que o dinheiro liberado para virar empréstimos fosse convertido em pagamento a acionista. Até então, um dividendo certo na conta do acionista era o de bancos, um setor que sabe lucrar e distribuiu lucros neste país.

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Quando seca até o dividendo do lucro, não custa olhar para o lado em busca de mais oportunidades.

Alguns investidores já devem estar se perguntando se a baixa atual do mercado é uma oportunidade de compra. A semana, que era curta, poderia ter acabado ainda antes para os investidores da turma da vacina (os otimistas, digamos assim).

O Ibovespa termina a semana com queda acumulada de 2,84%, a 98.363 pontos. É um reflexo das perdas dos Estados Unidos, de onde veio essa onda baixista do mercado.

Relembrando: depois das máximas históricas nas ações de tecnologia (Apple, Tesla, Amazon, Microsoft, essa turma aí), os papéis entraram em uma espécie de liquidação causada pelo Softbank (que não é banco, mas um grande fundo investidor).

Aí o investidor ficou confuso e decidiu vender mesmo para não correr o risco de ficar com uma ação cara na mão no meio da pandemia.

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De resto, a semana foi aquele mais do mesmo: num dia acham que a recuperação econômica (lá fora e aqui) vai ser melhor do que o previsto, no outro descobrem que não é bem assim.

MAIORES ALTAS

Vale: 5,84%

Bradespar: 4,35%

CSN: 4,03%

Pão de Açúcar: 3,97%

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Natura: 3,76%

MAIORES QUEDAS

Cielo: -4,31%

IRB Brasil: -4.13%

Intermédica: -3,77%

Hypera: -3,59%

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Qualicorp: -3,30%

ÍNDICES

S&P 500: +0,05%; 3.340,95

Dow Jones: +0,48%; 27.665,64

Nasdaq: -0,60%; 10.853,55

DÓLAR

+0,27%; R$ 5,3334

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