Durante a disputa pela Casa Rosada, o ultraliberal Javier Milei não poupou cutucadas ao governo brasileiro e declarou mais de uma vez que poderia romper as relações econômicas com o Brasil — maior parceiro comercial da Argentina.
Milei já amenizou esse discurso e se mostrou disposto a manter uma relação diplomática com o nosso país. Mas, ainda que nada mude entre Brasil e Argentina, seus planos para a economia podem respingar por aqui.
Uma de suas principais promessas de campanha foi a de dolarizar a economia, como forma de combater a inflação de 142% ao ano. Sai o peso argentino, entra o dólar americano. A mudança depende de autorização do congresso.
Enquanto a Argentina não se resolve, a mera promessa de dolarização massacra a cotação do peso – afinal, qual é o “valor justo” de uma moeda que pode deixar de existir e que é tratada pelo próprio presidente como algo “que não serve nem para adubo”?
Isso é um problema para o Brasil, que tem empresas com forte presença na Argentina, ou seja, que gera parte de suas receitas em pesos.
De acordo com um levantamento do Bradesco BBI, a empresa de bens de capital com maior exposição à Argentina é a Mahle Metal Leve (LEVE3) – 10% a 12% do faturamento da fabricante de autopeças vem de lá. Depois vêm Randon (RAPT4) e Iochpe (MYPK3), com 5%; Marcopolo (POMO4), com 3% e WEG (WEGE3), com 2%.
A tendência, de qualquer forma, é que as companhias façam mais contratos em dólar, para se protegerem da decadência do peso.
No setor bancário, o Banco do Brasil (BBAS3) é a única instituição financeira brasileira com exposição aos hermanos, já que o Itaú (ITUB4) vendeu a sua subsidiária argentina em agosto ao banco Macro. O BB atua na Argentina por meio do Banco Patagonia — hoje, os 80,4% do capital que detém na companhia correspondem a 7,2% da receita de juros da estatal.