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Pix parcelado pode mesmo matar o cartão de crédito?

Presidente do Banco Central vê Pix como concorrente do cartão nas compras a prazo. Entenda por que esse é um plano distante.

Por Tássia Kastner
13 jul 2023, 10h46
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 (Caroline Aranha/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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R​​oberto Campos Neto afirmou a empresários do varejo que o Pix pode, em tese, roubar o espaço do cartão de crédito nos pagamentos a prazo. Isso seria possível porque os bancos passaram a oferecer uma espécie de Pix Parcelado, no qual o vendedor recebe à vista, mas consumidores pagam o valor a prestações para a instituição financeira. O Pix Parcelado tem juros que partem de pesados 4% ao mês.

Quando o presidente do Banco Central falou da substituição do cartão de crédito, ele mirava principalmente as taxas que os lojistas pagam. Hoje, quando você desembolsa R$ 100 numa compra no cartão, R$ 2,34 vão para as maquininhas (Cielo, Rede, PagSeguro…) e para as bandeiras (Visa, Master, Elo…) – as empresas que organizam esse ecossistema e ligam o consumidor, o banco e o lojista.

Essa taxa já foi bem mais cara, de 4% ou mais por transação. Mas, mesmo menor, ela ainda é salgada em comparação com o pagamento instantâneo. O Pix é gratuito entre pessoas, enquanto bancos são autorizados a cobrar em pagamentos de empresas. Via de regra, a tarifa é inferior a 2%. Por essa lógica, seria vantajoso que varejistas migrassem para o novo sistema e abandonassem o cartão.

Só que o coração do problema é outro. A disputa entre Pix Parcelado e o cartão de crédito está no esforço infrutífero que os bancos fazem há anos para tentar acabar com o famoso “dez vezes sem juros”. Eles afirmam que os lojistas vendem a prazo, mas não correm risco de levar calote. A bomba fica com os bancos, mas eles não conseguem ser remunerados pelo serviço de oferecer o crédito. Essa é a explicação dos bancos para os juros exorbitantes no rotativo do cartão, que supera os 500% ao ano. Seria uma maneira de compensar os ganhos que eles não têm no parcelamento. Em 2021, por exemplo, os bancos tentaram criar um crediário do cartão de crédito, uma espécie de concorrente do parcelado sem juros. O projeto naufragou.

Mas vale olhar para um dos motivos pelo qual o parcelado “sem juros” não acaba. Imagine: você decide comprar um smartphone novo, abre um e-commerce e o aparelho tem dois preços: R$ 4.199 no Pix à vista ou R$ 4.665,56 no cartão, em até dez vezes. Se há dois preços e o à vista é mais barato, você sabe que tem juros. A diferença é de R$ 466,56, o que equivale a 11% em dez meses – ou 1% ao mês, o que é mais ou menos a Selic hoje. Grosso modo, isso significa que o varejo está cobrando apenas o custo do dinheiro, sem lucrar em cima desse crédito. O exemplo é real.

Acontece que o Pix Parcelado dos bancos é muito mais caro do que isso. O mais comum é que a taxa de juros seja a mesma do empréstimo pessoal – 5,6% ao mês, em média. Então, se você pagar o preço menor à vista e dividir no Pix Parcelado, o que acontece é o seguinte: o seu telefone não custará mais R$ 4.199 e nem R$ 4.665. O mesmo aparelho vai sair por mais de R$ 6 mil. Cilada. Dá para entender por que consumidores continuam comprando em dez vezes sem juros, mesmo com juros. E que os bancos terão de baixar as taxas do parcelamento se quiserem mesmo competir por esse mercado. Só o fato de ele ser via Pix não vai resolver o problema.  

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