Conheça a Pop’s Fantasy, marca de pipocas
Criador da companhia, o publicitário Toshio Hito começou com um carrinho em frente a um shopping. Veja sua trajetória.
12 de junho de 2007, Toshio Hito e a esposa, Suzana, estacionaram um carrinho de pipoca em frente a um shopping de Marília, no interior de São Paulo. Bem que eles haviam tentado vender o produto na área interna do estabelecimento, mas não conseguiram autorização. Resolveram, então, ocupar a calçada e aproveitar o movimento de entra e sai daquele Dia dos Namorados.
Por mais otimista que fosse, o casal não imaginava que, 17 anos depois, seu negócio teria uma receita de R$ 1,7 milhão por ano e venderia 2 milhões de unidades de pipoca e algodão doce. Ou que os produtos de sua marca, a Pop’s Fantasy, estariam disponíveis em centenas de pontos de venda de 14 estados brasileiros – padarias, lojas de conveniência, bombonieres, postos de estrada. Tudo isso partindo de um investimento inicial de R$ 5 mil.
A expansão do negócio se explica, em parte, pelo boom mundial da pipoca caramelizada e de produtos de snack prontos para consumo. Mas não é só isso. Para Hito, o sucesso nas vendas também está relacionado a uma estratégia de marketing construída a partir do encanto que envolve o hábito de comer pipoca. Por isso a empresa tem o termo fantasy no nome. Trata-se de um produto feito para mexer com a memória afetiva, invocando recordações de momentos felizes, como o da família reunida para assistir a um filme na sala de casa. “É um mercado no qual você precisa trabalhar com a emoção das pessoas. De resto, o brasileiro adora pipoca”, diz.
Os indicadores mostram que ele não está equivocado: o Brasil representa o segundo maior mercado de comercialização de milho de pipoca do mundo – atrás apenas dos EUA –, atingindo a marca de 80 mil toneladas por ano, de acordo com o Sebrae. Além disso, a produção do insumo no país aumentou 135% nas últimas duas décadas.
Mas nem tudo foi doce na trajetória do criador da Pop’s Fantasy. Hito, hoje com 51 anos, começou a vida profissional como publicitário. Era diretor de criação em uma agência de propaganda de Marília. “Eu ganhava pouco e, por mais que me empenhasse, percebia que o sonho alimentado desde a infância de fazer campanhas marcantes, em grandes agências, não iria se realizar.”
Em 1997, insatisfeito com a carreira, deixou tudo para trás e foi viver como decassêgui no Japão. Lá, fez de tudo um pouco, de operação de máquinas de indústrias de componentes eletrônicos a processamento de peixes congelados, sem falar na montagem de portas em uma serralheria. Dez anos depois, estava de volta ao Brasil. Inicialmente, a intenção era retornar apenas para formalizar a união conjugal com Suzana. Diante de uma inesperada doença da sogra, porém, o casal teve que ficar mais tempo no Brasil, e Hito decidiu remontar a vida por aqui.
Tinha 36 anos quando posicionou o carrinho em frente ao shopping. Antes, conversou com pipoqueiros para tentar entender o mercado, além de recolher dicas e receitas. “Vi que o setor era promissor, mas faltava inovação.” De certo modo, a experiência como publicitário não foi em vão. À frente da Pop’s Fantasy, ele desempenha o papel de um “vendedor de imagens e de conceitos”.
No começo, Hito vendia as tradicionais pipocas salgadas e doces. Para agregar valor ao produto, adicionou pedaços de queijo crocante à pipoca salgada. Não hesitou em caprichar nas embalagens de papelão, acoplando cordões dourados, como se elas fossem feitas para virar presente. Depois, passou a vender pipocas doces com cores chamativas – roxo, azul, amarelo, rosa.
“Era para aguçar os sentidos das pessoas”, diz. Para completar o visual, o casal trajava uniformes tão coloridos quanto as pipocas. Convencido de que apenas o apelo visual não era suficiente, tratou de fisgar os clientes também pelo paladar, oferecendo sabores inusitados, como tutti-frutti, coco, banana, uva, napolitano e chocolate branco.
Começo errante
Com apenas um ano de negócio, em 2008, a vida de pipoqueiro mudou. Após sofrer um assalto na rua, o casal achou mais prudente buscar um local fixo e abrigado para trabalhar. Além da violência urbana, as intempéries do clima pesaram na decisão, pois afastavam os clientes em muitas ocasiões. Assim, Hito e Suzana trocaram o carrinho de pipocas por uma loja de doces. Poderia ter dado certo, mas não foi o que aconteceu. O ponto escolhido era ruim e, em cinco meses, o negócio faliu.
A recuperação foi lenta e gradual. Um passo importante nesse sentido foi dado ao abrigar o empreendimento numa incubadora tecnológica da cidade. Ali, havia um local onde guardar o material de produção enquanto Hito gastava sola de sapato para vender pipoca em festas e eventos corporativos – a forma encontrada para pagar as dívidas acumuladas com o passo mal dado na loja.
Com a crise financeira sanada, a Pop’s Fantasy tinha outro desafio: superar a barreira de crescimento, já que o mercado de Marília era pequeno para acomodar os sonhos dos empreendedores. Eles desejavam mais do que vender pipoca. O objetivo era criar uma marca de alcance nacional.
Para isso, era preciso uma embalagem capaz de preservar o frescor e a crocância, de modo que as pipocas pudessem chegar a outras regiões do país. “Se fosse uma grande indústria, bastaria investir em novos maquinários e estaria resolvido o problema. Mas quem é pequeno sofre com um círculo vicioso: não tem dinheiro para investir porque não vende o bastante, e não vende o bastante porque não tem dinheiro para investir”, resume Hito.
A solução foi apelar para a criatividade. Primeiro, com a aquisição de copos de plástico para substituir as embalagens de papelão. Depois, uma solução caseira para fixar os selos de alumínio que fecham os potes: o ferro de passar roupas guardado em casa.
Os testes deram certo. Acondicionados em invólucros que impedem o contato com o ar externo, os produtos ganharam vida útil de até 14 meses, o que possibilitou à Pop’s Fantasy vender para todo o Brasil. Para complementar, Hito apostou em novos canais de venda, aos quais chama de pontos multiplicadores – locais com muito trânsito de pessoas, como restaurantes e conveniências de beira de estrada.
A arrancada
Apesar da capacidade de inovação e dos esforços dispendidos, ao final de 2013, o casal estava cansado. “O negócio exigia uma dedicação gigantesca, mas a coisa não deslanchava.” Naquele momento, o dono da Pop’s Fantasy prometeu se doar ao máximo ao negócio por mais um ano. Se depois disso não recebesse um sinal inequívoco de que estava no caminho certo e que a sua persistência não era teimosia, abandonaria o projeto. Por via das dúvidas, tratou de aprimorar os conhecimentos ao participar Empretec, tradicional programa de formação de empreendedores do Sebrae, e cursou um tecnólogo em Processos Gerenciais.
Quando o prazo pessoal estava quase estourando, em setembro de 2014, a sorte acenou na forma de uma aparição no quadro “Tive Uma Ideia”, do Fantástico. A produção da Globo havia visto uma reportagem sobre a Pop’s Fantasy num noticiário regional do SBT e considerou a pauta atrativa, a ponto de mandar um repórter e um cinegrafista do Rio de Janeiro para Marília. Foi o empurrão que faltava.
Mas havia ainda um último obstáculo: a pandemia, que pegou a Pop’s Fantasy em franca ascensão. Com o isolamento social, as vendas caíram 95%, obrigando o empresário a adotar ações drásticas. “Sabia que haveria ondas consecutivas [da Covid] e que, nesse tempo, precisaria manter o caixa apertado. Refiz o planejamento com um horizonte de recuperação de até um ano e meio.” As medidas incluíram a dispensa de todos os colaboradores para evitar o fechamento da empresa. No período, o casal trabalhou sozinho para segurar o pouco que restara de encomendas, enquanto as ondas da Covid se sucediam.
Em busca de investidores
Adaptada à nova realidade, a Pop’s Fantasy contratou de volta os empregados e retomou o prumo, com sobras. Já entre 2020 e 2021, o faturamento subiu 85%. Desde então, o encantamento jamais se perdeu, e a média de crescimento vem sendo de 25% ao ano. Hoje, a empresa opera com dez colaboradores num salão próprio de 260 metros quadrados em Marília, onde ficam as áreas administrativa e de testes de novos produtos.
E o casal sonha com voos mais altos. Já houve oportunidade de escalar ainda mais as vendas, mas faltou capital. “Não íamos fazer loucuras”, explica ele. A ideia é encontrar investidores para acelerar a expansão. De preferência, por parte de empresas da área de alimentos, com pontos de venda bem localizados, equipes comerciais experientes e, claro, acesso a crédito para outros incrementos. Seja como for, a escolha será criteriosa: “Não pode haver conflito de visão empresarial. Não é só o dinheiro que importa. É preciso crescer sem perder o encanto do negócio”.