As leis de incentivo fiscal servem para estimular empresas a dedicarem parte dos seus lucros a projetos sociais, culturais e esportivos. O governo topa abrir mão de R$ 3 bilhões em arrecadação em troca disso, mas anualmente só 30% das iniciativas sociais recebem verba por essa via. Os dados são do Ministério da Cultura e coletados pela Simbi, uma social tech. Fundada em 2017, a startup tenta ajudar no match entre projetos anunciados em bases públicas e empresas interessadas em financiá-los. Já são 215 mil iniciativas mapeadas, 540 projetos beneficiados e 31 empresas que contrataram a plataforma — como ArcelorMittal, Unilever e Meta. Raphael Meyer, um dos três fundadores da Simbi, conta como funciona o negócio.
1. Como surgiu a Simbi?
Eu trabalhava na Ambev e meu sócio, Mathieu Anduze, na Unilever. Ambos vivenciávamos as dificuldades de tirar o investimento social do papel e avaliamos que a tecnologia poderia ajudar a resolver o problema. Aí convidamos Tadeu Silva, programador, para sersócio da Simbi. Fizemos uma análise dos dados de investimentos via leis de
incentivo, especialmente a Lei Rouanet, desde 1991. Dessa análise, criamos uma plataforma voltada para empresas que reúne dados sobre os projetos em busca de recursos, o que melhora o processo de investimento social, reduzindo os custos para as companhias.
2. Porque é tão difícil fazer o match entre empresas e projetos sociais?
O problema maior, que enxergamos como sistêmico do setor, é de governança. Isso se desdobra em três pontos centrais. Primeiro, por falta de informações claras, as empresas têm dificuldades de cumprir com as políticas de
investimento social. Elas não sabem onde encontrar os projetos, quais projetos estão captando recursos, e quais
municípios têm maior demanda por investimento. Não há compreensão da demanda nacional. Segundo, há um problema de compliance. Quanto mais você pulveriza o investimento social (tentando contemplar organizações fora de SP e RJ, por exemplo), mais difícil fica a aprovação dentro das empresas para o negócio. Há uma percepção de risco alta, por falta de informações sobre o histórico das organizações. O terceiro é o alto custo transacional para gerir essas doações. É difícil acompanhar e medir qual o impacto social que está sendo gerado lá na ponta, ainda mais quando você pulveriza o investimento em várias organizações sociais.
3. Como a Simbi resolve essa questão?
Para resolver o primeiro problema, de pré-investimento, temos uma plataforma que permite à empresa ver todas as organizações sociais que estão captando recursos. Também criamos um mapa de demandas – um mapa do Brasil que cruza com todos os Objetivos de Desenvolvimento Social da ONU e coloca os municípios em níveis de demanda social. Para o segundo problema, criamos a solução de auditoria, produto tecnológico que faz uma due diligence de todas as organizações selecionadas para investimento social. A empresa, antes de investir, consegue ter a clareza de toda a documentação que o compliance pode pedir de uma organização social antes de apoiá-la. Por fim, criamos
um questionário padronizado para gerar um relatório de resultados.