Não existe empresa perfeita. Onde houver pessoas, há risco de má conduta, como assédio. Por conta dessa realidade, surgiu a SafeSpace: uma plataforma para melhorar os canais de denúncias dentro de empresas. O objetivo é que os funcionários se sintam confortáveis em registrar queixas. Para isso, o sistema não pode ser kafkiano, como acontece em diversas companhias. A ideia chamou a atenção. Fundada por quatro mulheres em 2020, a empresa captou mais de R$ 11 milhões. Conversamos com Rafaela Frankenthal, cofundadora e CEO da SafeSpace.
Que barreiras impedem os funcionários de denunciar situações abusivas no ambiente de trabalho?
A maioria dos casos acontece em uma relação de hierarquia, que torna mais difícil para o funcionário reportar. Ele tem medo de sofrer retaliação. Outro ponto é a falta de confiança na capacidade da empresa de gerir e resolver processos internos. E por fim tem a falta de transparência. Por serem assuntos delicados, as empresas preferem mantê-los velados. Não deveria ser assim. Sabemos que esses problemas acontecem em todo ambiente de trabalho, e precisamos reconhecer isso como algo estrutural para conseguir passar confiança de que a empresa vai saber lidar com as denúncias.
O que faz a SafeSpace? Como ela se diferencia dos canais de denúncia interna?
A SafeSpace é uma solução para combater a má conduta no ambiente de trabalho. Oferecemos um canal de escuta e damos capacitação para profissionais de Compliance e RH. A gente fala muito sobre assédio [sexual ou moral] porque é o problema mais comum e ao mesmo tempo o menos comunicado, então é onde as empresas têm mais espaço para melhorar. Mas o serviço engloba qualquer questão que não bata com os valores da empresa – discriminação, fraude, conflito de interesses.
Em canais de denúncia tradicionais, a empresa vai receber o caso, fazer uma triagem e repassar para o cliente. Na SafeSpace, os dados são organizados pela inteligência artificial da plataforma e o relato chega em tempo real para o RH ou o Compliance da empresa. Investimos em usabilidade e fugimos do estereótipo negativo que os canais de denúncia têm. Quase como se a plataforma fosse um benefício para os funcionários, e de fato convidando-os para utilizarem o canal, ao invés de deixá-lo escondido.
Qual foi o impacto da implementação do sistema nas empresas parceiras?
Tem duas categorias: as empresas que implementaram a SafeSpace como primeiro canal e as que já tinham os canais tradicionais e substituíram pela SafeSpace. No segundo caso é mais fácil enxergar os resultados: aumento de relatos e engajamento maior. Comparando nossas bases com as de fornecedores tradicionais, a gente garante 7 vezes mais engajamento. E como a gente tem um fluxo que guia a pessoa ao longo do processo, as pessoas preenchem em média 95% das perguntas. A informação já vem estruturada para a empresa. Isso faz com que elas consigam resolver os casos em média três vezes mais rápido.
*Nota: na edição impressa de agosto, esta matéria foi publicada com o valor de captação errado: R$ 60 milhões. Nós corrigimos aqui no online para o valor correto, de R$ 11 milhões.