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Entenda a novela do IRB Brasil, que subiu 27% nesta semana

Companhia cheia de enroscos se torna o destaque numa semana de Ibov zerado.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 9 out 2020, 16h26 - Publicado em 25 set 2020, 19h36
 (Kehan Chen e Laís Zanocco/Getty Images)
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Quem vigia os vigilantes? Não sei. Mas quem faz seguros para as companhias de seguro são as resseguradoras. E a maior delas por aqui é o IRB Brasil. A empresa andava esquecida nos últimos tempos, por conta de uma avalanche de problemas internos, mas parece ter voltado à vida nesta semana. Foi a que mais subiu nesta semana: 31%. Ou seja: uma ação que até outro dia era vista como roubada pode estar renascendo das cinzas.

E tudo isso numa semana em que o Ibovespa basicamente zerou. O índice começou a segunda aos 96.807 pontos, passou pela montanha russa de sempre, e voltou calmamente ao ponto inicial (na verdade, teve uma leve subida de 0,2%, a 96.999 pontos, o que dá na mesma). A sexta foi um dia emblemático para esse desempenho xoxo: zerou também: -0,01%, a 96.999. 

Nos EUA, a semana foi um pouco melhor. O S&P 500 subiu 1,04% e o Nasdaq Composite, 2,39%. Nota: ambas as subidas semanais só existiram por conta das altas de hoje – 1,34% para o S&P, 2,26% para o Nasdaq. Não que hoje tenha rolado alguma notícia realmente boa. Não. É que os dois índices já tinham caído mais ou menos 10% desde o início do mês, e nessas horas sempre tem quem compre imaginando se tratar de uma boa oportunidade – é o que os gringos chamam de dip buying, e que na feira chamam de “fazer a xepa”.   

É basicamente isso, aliás, que aconteceu com a o IRB Brasil nesta semana. 

A empresa pode não ser muito conhecida. Mas trata-se da Petrobras do mundo das apólices, sinistros e franquias. Nasceu como estatal, parida por Getúlio Vargas em 1939, com a missão de ser um esteio da economia brasileira. Mais especificamente, para fazer o papel de último recurso no mercado de risco. Se uma fábrica pega fogo ou uma safra acaba morta pela geada, a seguradora cobre uma parte do prejuízo. Se a seguradora se vê sem caixa após vários incêndios e geadas, há a resseguradora para salvar o dia – e evitar quebradeiras generalizadas.

Bom, o IRB foi privatizado recentemente, em 2013 e fez seu IPO outro dia, em julho 2017. De lá até janeiro deste ano, as ações da empresa subiram de R$ 9,50 para R$ 44,83 – uma gloriosa alta de 370%.

Até que a maré mudou. Nos dias 2 e 9 de fevereiro, a gestora de fundos Squadra, soltou dois relatórios dizendo que o IRB maquiava seus balanços. A empresa tinha reportado um lucro de R$ 1,7 bilhão. A Squadra afirmou que, desse R$ 1,7 bi, pelo menos R$ 1,5 bi tratavam-se de ganhos pontuais, que não tinham como se repetir no futuro, e que o IRB não tinha deixado isso claro – um pecado mortal para qualquer companhia de capital aberto.   

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O relatório não era um documento oficial da CVM. Não tinha efeito legal, e alguns especialistas até discordaram do que estava escrito ali. O mercado, porém, entrou em modo desconfiança, e as acões começaram a cair. No final de fevereiro, quando a queda já estava em 20%, a diretoria tentou apagar o fogo. Disse que Warren Buffett em pessoa tinha triplicado sua participação no IRB.

Era mentira. Uma semana depois, no dia 3 de março, a Berkshire Hathaway, conglomerado de Buffett que tem participações em diversas companhias, soltou um comunicado assertivo, dizendo com todas as letras: “A Berkshire não é acionista do IRB, nunca foi acionista do IRB e não tem a intenção de ser acionista do IRB”. 

Boom. Era um atestado de que a empresa estava sendo gerida por gente perigosa. Se eles eram capazes de mentir sobre o investidor mais respeitado da Terra, o que mais garante que eles não teriam mesmo fraudado seus balanços? O CEO e o CFO deixaram a empresa após a resposta da Berkshire. No meio de março, as ações tinham caído para R$ 7 – um derretimento de 85% em relação ao preço de janeiro.    

Os controladores do IRB disseram depois que iriam mudar tudo dentro da empresa, e que tocariam uma investigação para levantar os malfeitos dos diretores que tinham saído. Em junho, disseram que ex-executivos haviam roubado R$ 60 milhões da companhia, a título de bônus fraudulentos.  

Depois, eles revisaram o balanço de 2019, reportando agora um lucro 30% menor para o ano. Em junho, a empresa divulgou seu balanço para o primeiro trimestre de 2020: lucro de R$ 13,8 milhões – 92% abaixo do mesmo período de 2019. Em 31 agosto, veio o resultado do 2T20: prejuízo de R$ 685 milhões.  

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Números nada animadores. E que derrubaram mais ainda os preços das ações. Em 21 de setembro, elas estavam na baixa histórica, negociados na faixa dos R$ 5,60.  

Na quarta, porém, veio uma notícia positiva. A empresa divulgou uma prévia do balanço do terceiro trimestre, adiantando números de julho. Reportaram um faturamento bruto de R$ 1,5 bilhão – o dobro do de julho de 2019. Ainda que a notícia tenha sido acompanhada pela de um prejuízo de R$ 62 milhões no mês, o aumento de 100% no faturamento aliado ao preço extremamente baixo das ações animou muita gente. E a ação terminou a semana em R$ 7,17: uma alta de 27%.

Caso a tendência se mantenha, e o IRB tenha de fato se tornado uma empresa confiável, a possibilidade de retorno aos patamares do início do ano excita os investidores mais agressivos – já que estamos falando em uma possibilidade de alta na casa dos 500%. Para os mais cautelosos, porém, fica a dica que Warren Buffett sempre dá: espere alguns anos de balanços consistentes, e limpos, antes de virar sócio de qualquer empresa.

Bom fim de semana.        

 

MAIORES ALTAS

Suzano: 4,65%

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Via Varejo: 3,99%

Localiza: 1,74%

Magalu: 1,49%

Cogna: 1,65%

 

MAIORES BAIXAS

Multiplan: – 2,99%

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Petróleo Rio: – 2,74% 

Iguatemi: – 2,28%

Cemig: -2,23%

CVC: -2,16%

 

Petróleo

Tipo Brent: -0,05%, a US$ 41,92 o barril

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Tipo WTI: -0,14%, a US$ 40,25 o barril

Dólar: +0,81%,  cotado a R$ 5,55

 

 

 

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