Segunda onda da Covid derruba as bolsas pelo mundo
Retomada do vírus na Europa gera apreensão em todos os mercados. Por aqui, só três das 77 ações do Ibovespa fecharam a sexta em alta.
Milton Friedman dizia que era normal um preço ou outro subir de vez em quando. O problema mesmo era quando todos, de todos os setores, subiam em uníssono, já que isso indicava um problema estrutural na economia.
Foi o que aconteceu hoje no Ibovespa, só que ao contrário. Basicamente todas as ações caíram, como que comandadas por um maestro mal humorado. A quarta maior “alta” do dia, por exemplo, foi uma baixa: -0,25%, da Tovs. O quinto melhor desempenho foi da Ultrapar, com uma queda robusta de quase 1%. Uau.
Foi tipo a festa do Bené, o cara “mais gente boa do morro”, em Cidade de Deus (2002). Todo mundo foi, de todos os setores. Marcaram presença a turma dos bancos: Itaú (-1,43%) Bradesco (-1,78), Santander (-3,87%); a galera do turismo: Gol (-4,78%), Azul (-2,46%), CVC (-2,92%); o bonde das commodities: Vale (-0,68%), Cosan (-2,06%), Petrobras (-2,26%).
Pois é, Quando a inflação é generalizada, ensina Friedman, a culpa não é da safra, do dono do supermercado, da chuva. É de algo maior: do governo. Quando há uma queda geral na bolsa, idem. O problema não é a petróleo, o preço do minério de ferro em Qindao nem a chuva. É algo maior. Nesse caso, o coronavírus.
A segunda onda na Europa não é pouca coisa. Ontem mesmo a França registrou seu maior número de novos casos desde o início da pandemia: 10.593, depois de ter reduzido esse número para menos de mil há meses. Isso deixa claro o que a ciência sempre soube, e buscou avisar: o vírus vem em ondas. Agora está claro que altitudes como a da Nova Zelândia, que tinha se declarado livre do Sars-Cov-2 em julho e voltou a ter casos, são tão acéfalas quanto o negacionismo que se vê no Brasil ou na Bielorússia. Só dá para decretar vitória contra a Covid depois de uma imunização coletiva – quando algo em torno de 70% da população mundial ou já tiver pegado o vírus ou tiver tomado uma vacina eficaz. Nenhuma das duas realidades é faz parte do horizonte vislumbrável neste momento.
E o mercado começa a acordar para essa realidade. A queda do Ibovespa na sexta (18) foi de -1,81%.
Em meio ao tombo generalizado, também houve empresas que sofreram com notícias específicas, claro. Foi o caso da Cielo, que levou a medalha de latão de maior queda do dia (-6,58%) depois de ter sua recomendação reduzida pelo JP Morgan de “manutenção” para “venda”. É que a participação da Cielo no mercado de maquininhas vem caindo (era de 48% em 2016, e caiu para 34% em 2020). Além disso, ainda tem o fantasma do PIX: o novo sistema, que estreia em novembro, vai tornar as maquininhas dispensáveis para operações de débito – bastará ao vendedor ter um celular para receber pagamentos por essa modalidade. Essa “disrupção” (perdão pelo termo gasto) afeta todas as empresas da área. A Pag Seguro, que negocia suas ações em Nova York, caiu 16% do final de agosto para cá.
Em NY, por sinal, a queda dos índices veio basicamente no mesmo patamar do Ibovespa e dos mercados europeus (que também tinham fechado no vermelho mais cedo). O S&P 500 encerrou a -1,12%; o Nasdaq Composite, a -1,07%. O S&P 500, vale lembrar, marcou seu último recorde histórico outro dia praticamente: 3.580 pontos em 2 de setembro. De lá para cá já caiu 7% (um assombro), e está agora em 3.319 – menos que os recordes pré-pandemia. O pior é que faz sentido. A subida em uníssono que os bolsas do mundo todo viveram desde abril talvez tenha indicando um problema estrutural do mercado: excesso de otimismo.
Bom fim de semana.
Melhores desempenhos
Suzano: 2,10%
Raia Drogasil: 1.29%
Magalu: 0,07%
Totvs: -0,25%
Ultrapar: -0,78%
Piores desempenhos
Cielo: -6,58%
BTG Pactual: -4,97
Renner: -4,97
IRB Brasil: -4,91%
Gol: -4,78%
Petróleo
Brent: -0,35%, a US$ 43,15 o barril
WTI: +0,24%, a R$ 41,32 o barril
Dólar: +2,77%, a R$ 5,37