Para aqueles que também estão com saudades do Brasileirão, pensemos em termos futebolísticos. O Ibov abriu a partida bem, impulsionado pela alta dos papéis da Vale (+1,01%) e um exterior surfando nos resultados positivos de empresas tech (ambos fatores que entenderemos melhor em instantes).
No meio do 1º tempo — cerca de 12h, para sermos mais específicos — o jogo virou. Dados fortes sobre o setor de manufatura e serviços nos EUA reacenderam preocupações em relação aos cortes de juros no país, e o índice, gradativamente, começou a perder força.
Por volta das 15h30, virou de vez. E aí, não teve estratégia que salvasse. Chegamos ao final da partida perdendo 0,35% — aos 127.815 pontos.
O Ibov foi na contramão dos principais times índices americanos, apesar de eles também terem perdido forças ao longo do dia. O S&P 500, que abriu em alta de 0,57%, fechou estável (0,08%). A Nasdaq, com alta forte na abertura (0,87%), ganhou meros 0,36%.
Vamos entender melhor o que aconteceu, por lá e por aqui.
EUA
Como citamos ali em cima, dados sobre o setor de manufatura e serviços dos Estados Unidos, o famigerado PMI, saíram nesta quarta. O indicador aumentou para 52,3 este mês, o nível mais alto desde junho passado. Em dezembro, o dado foi de 50,9. Acima de 50, o PMI indica crescimento. Abaixo de 50, retração.
A alta amargou os ganhos por aqui e por lá porque o Fed precisa de sinais de esfriamento da economia para começar a cortar a taxa de juros, atualmente em 5,5% no ano (nível elevadíssimo para a economia norte-americana).
Em dezembro, só 12% dos investidores apostavam na manutenção desse patamar na reunião do Fed de março. A teoria começou a perder força no começo do ano e, atualmente, a maioria acha que vai permanecer do jeito que está por mais um tempo (58,4%).
Na terra do Tio Sam, o setor tech veio ao resgate, impedindo os índices de fecharem o dia no campo negativo. Não dá pra dizer o mesmo para o Ibov porque, como sabemos, as ações de tecnologia não fazem nem cosquinha nos investidores brasileiros.
A boa de hoje foi cortesia da Netflix e da ASML, empresa de semicondutores alemã. No caso da primeira, o que chamou a atenção dos investidores foram os novos assinantes do streaming: no último trimestre de 2023, foram 13,1 milhões deles, muito acima dos 8,9 milhões previstos por analistas. A empresa divulgou as informações ontem, pós-fechamento em NYC. Hoje, as ações subiram 6,03%.
Em relação à ASML, a companhia divulgou um recorde de pedidos no 4º trimestre, e lucro líquido (2,05 bilhões de euros) bem acima das expectativas (1,86 bi). No fechamento, os papeis avançaram 7,37%.
Nenhuma das duas empresas é suuuuper relevante dentro dos índices norte-americanos — então geralmente não conseguem puxar os índices sozinhas. Mas os ótimos resultados vêm justamente quando as apostas para o setor tech estão altíssimas, em especial com a explosão do interesse por inteligência artificial. As boas notícias, então, foram recebidas com mais festa do que o usual, na vibe lado meio cheio do copo: se os juros vão ficar altos, é porque as empresas continuam lucrando, então tudo certo.
VALE3
Depois de sete pregões no vermelho e perdas acumuladas de 6,6%, os papeis da Vale tiveram um respiro nos últimos dois pregões. Ontem, a alta foi de 2,06%. Hoje, 1,01%.
Nesta quarta, o minério subiu 1,77% na bolsa de Dalian, decolando com o anúncio de Pequim de um corte no compulsório bancário. A mudança injetará cerca de 1 trilhão de yuans (US$ 141 bilhões) no país.
Claro, isso são projeções para um futuro-razoavelmente-distante. A decisão é bastante indireta mesmo para a economia chinesa, já que primeiro o compulsório cai, depois os bancos tentam emprestar o dinheiro e quem sabe o crédito vira mais consumo e um crescimento na China – e aí sim mais demanda por produtos brasileiros.
Ou seja: pode demorar um tempinho para as medidas de estímulo à economia chinesa se converterem em mais lucro para Vale e outras mineradoras/siderúrgicas brasileiras. Mas isso pouco importa para o mercado financeiro, uma das instituições mais ansiosas da contemporaneidade – e que vive de antecipar o futuro. Bastou a mera possibilidade da grana para empolgar investidores. Vide as bolsas asiáticas nesta quarta: o índice chinês CSI 300 avançou 1,40%. O Hang Seng, de Hong Kong, saltou 3,56%.
Se o Ibovespa não caiu mais, foi uma cortesia da Vale, que ocupa 13% da composição do índice.
Trocando em miúdos: expansão da economia chinesa = mais demanda por minério de ferro = aumento nos preços da commodity. Isso faria com que a receita da companhia crescesse organicamente, sem precisar gastar mais na operação. A.k.a margem de lucro maior. A.k.a golaço para ela.
Isso justo antes de uma efeméride trágica: amanhã (25) completam-se cinco anos desde o rompimento da barragem de Brumadinho, tragédia que matou 270 pessoas no interior de Minas Gerais. No primeiro pregão após o desastre, VALE3 caiu 24% — isso no dia 28, dado que 25 é feriado em São Paulo e a B3 não operou. A empresa perdeu R$ 60 bi de valor de mercado no dia (saiu de R$ 296 bi para R$ 226 bi).
A ação bateu no fundo do poço dia 7 de fevereiro de 2019, quando chegou a ser negociada a R$ 38,90. Desde então, os papeis subiram quase 80%.
Por sinal, vale lembrar. Amanhã é feriado em São Paulo, mas a B3, como boa paulistana, só pensa em trabalho. A bolsa abre normalmente. Então, nós também estaremos aqui para contar como foi o dia no mercado. Até amanhã 😉
MAIORES ALTAS
Usiminas (USIM5): 3,82%
Marfrig (MRFG3): 2,99%
Alpargatas (ALPA4): 2,52%
CSN Mineração (CMIN3): 2,44%
Gerdau (GGBR4): 2,31%
MAIORES BAIXAS
Natura (NTCO3): -5,38%
Casas Bahia (BHIA3): -4,50%
Yduqs (YDUQ3): -3,72%
RaiaDrogasil (RADL3): -3,53%
Arezzo (ARZZ3): -3,46%
Ibovespa: -0,35%, a 127.815,70 pontos
Em Nova York
S&P 500: 0,08%, aos 4.868 pontos
Nasdaq: 0,36%, aos 15.481 pontos
Dow Jones: -0,26%, aos 37.806 pontos
Dólar: – 0,47%, a R$ 4,9321
Petróleo
Brent: 0,65%, a US$ 79,63
WTI: 0,96%, a US$ 75,09
Minério de ferro: 1,77%, a US$ 138,22 por tonelada na bolsa de Dalian (China)