Eis uma frase com duas cifras mastodônticas. O Inter subiu 25% na bolsa nesta segunda após anunciar que a empresa de maquininhas Stone vai aportar R$ 2,5 bilhões no negócio. Se já não era notícia bombástica o bastante, o banco da família Menin (também dona da construtora MRV e do canal brasileiro da CNN) anunciou que pretende listar suas ações na Nasdaq, a mesma bolsa onde são negociados os papéis da nova sócia.
A entrada da Stone é uma marca realmente impressionante para a instituição de Belo Horizonte, que vem de uma sequência de parcerias e anúncios. Os mais recentes eram um pouco mais modestos, ok, acordos com seguradoras e com o Banco ABC para atuação mais firme no mercado de capitais.
O Inter nasceu há décadas como Banco Intermedium, voltado a operações de crédito apoiadas na MRV. Lá por 2015, a família Menin decidiu começar um processo de transformação digital, uma estratégia de sobrevivência no mundo financeiro que começava a ser povoado por fintechs. Alcançou 10,2 milhões ao final do primeiro trimestre.
Justiça seja feita, eles começaram cedo e com planos bastante ambiciosos. Hoje o negócio está estruturado em cinco pilares (que eles chamam de avenidas): o banco tradicional (serviços de conta), investimentos, seguros, shopping e crédito. É que em 2019 o Inter deu os primeiros passos para se tornar um super app, seguindo o que já existe na China com o WeChat, por exemplo.
O que conta para qualquer dono de aplicativo, aqui ou na China, é quanto tempo você passa nele. A audiência aumenta o potencial de novas vendas. E, vamos combinar, você passa um tempo infinitamente menor no app do banco do que no WhatsApp. Desde 2019, então, o Inter começou a vender outras coisas pela plataforma, como eletrônicos, roupas e até passagens aéreas. O caminho foi seguido pelo C6 e também será replicado pelo banco da XP, é bom dizer.
O que o Inter faz é a ponte com os fornecedores, como grandes varejistas, e ganha uma comissão a cada venda concretizada. Para que o cliente tenha um incentivo para usar o app do banco em vez de ir direto para a loja, o Inter faz um afago com um cash back, devolve uma parte da comissão. Dos 10,2 milhões de clientes, pouco mais de 1,7 milhão já faz compras pelo Inter.
Uma coisa que o Inter ainda não faz bem é ganhar a tarifa da maquininha de cartão, quando alguém faz uma compra. Nisso, há a expectativa de que a Stone poderá ajudar (esse, é claro, é só um exemplo banal). A Stone terá um lugar no conselho de administração do banco. Ela entrará no negócio com emissão de novas ações do Inter na bolsa (um follow-on). A ideia é que a captação de recursos seja maior, com outros investidores ajudando a financiar a expansão.
Ações na lua
Esse plano de ser um super app, ainda que em estágio inicial crescimento, já fazia investidores locais avaliarem o Inter como uma empresa mais parecida com de tecnologia do que com um banco. E isso significa pagar valores que podem ser considerados exorbitantes pelas ações.
Desde o IPO em 2018, as ações já subiram mais de 300%. As units (os papéis que estão no Ibovespa) hoje fecharam a R$ 223,29, garantindo uma valorização acumulada de 132% só em 2021.
Os papéis do Inter negociam a um P/L de 9.303. Significa que, considerando o lucro dos últimos 12 meses, um investidor que comprasse o papel hoje levaria 9 mil anos para recuperar o investimento.
Claro que, quem aposta no banco hoje espera uma alta acelerada nos lucros, tal qual as expectativas para empresas de tecnologia listadas nos EUA. A Tesla, que vinha sendo o símbolo dessa confiança no crescimento de lucros, anda negociando a um P/L de 600 vezes (empresas ditas normais têm múltiplo de 30 vezes).
No resto do mercado
Bem depois que entregamos o Fechamento de Mercado da sexta-feira, a Marfrig confirmou que havia comprado um caminhão de ações da BRF e havia alcançado 24,23% do capital da companhia de aves e suínos. Segundo o documento, a ideia é diversificar os investimentos, já que a Marfrig é concentrada em carne bovina.
O mercado financeiro continua confuso com a decisão da empresa controlada por Marcos Molina, e as ações tiveram novo dia de baixa. Por um momento do dia, elas chegaram a liderar as baixas, mas acabaram amenizando o ritmo e terminaram com baixa modesta (-0,44%). A BRF também caiu, mas em um típico movimento de realização de lucros após a disparada de 16% na sexta. A maior jogada da bolsa em anos ainda renderá no mercado.
O fato é que o noticiário corporativo ajudou a capturar o investidor e tirar a bolsa brasileira do dia da marmota que se tornou o medo da inflação nos Estados Unidos. O Ibovespa subiu 1,17%, para 124.031 pontos, cruzando a marca pela primeira vez desde janeiro.
Nem importou para o mercado financeiro que o presidente Jair Bolsonaro, mais uma vez, quer fazer caridade com o chapéu alheio. Após o evento (por falta de palavra melhor para definir o “passeio”) de moto no Rio, ele começa a se mexer para isentar pedágios de motos em um afago a apoiadores. A conta, você já sabe, vai ser socializada com os donos de carros, caminhões e outros veículos.
O mercado financeiro fez que não viu. Pegou carona no Inter e no dia positivo lá fora. Resta saber quais serão as próximas emoções corporativas para o Ibovespa continuar sua marcha à máxima histórica de 125.076,63. Falta pouco.
MAIORES ALTAS
Banco Inter 24,83%
Magazine Luiza 7,93%
Locaweb 7,54%
PetroRio 6,55%
Lojas Americanas 5,53%
MAIORES BAIXAS
Gerdau -2,80%
BRF -2,67%
Iguatemi -2,14%
Gerdau Metalúrgica -1,93%
Gol -1,84%
Ibovespa: +1,17%, a 124.031.62 pontos
Dólar: -0,53%, a R$ 5,3247
Nova York
Dow Jones: +0,54%, a 34.393 pontos
S&P 500: +0,99%, a 4.197 pontos
Nasdaq: +1,41%, 13.661 pontos
Petróleo
Brent: +3%, a US$ 68,43
WTI: +3,71%, a US$ 65,94
Minério de Ferro
-4,14%, a US$ 192,42 a tonelada no porto de Qingdao