Seu chefe chama para uma “conversa importante” na terça. Como fica a sua segunda numa dessas? Igual à das bolsas hoje: num clima de expectativa – provavelmente negativa, já que, nós, humanos, tendemos a prever o pior. Como o mercado, na falta de outras espécies que comercializem ações, é formado por humanos, o que tivemos foi um dia vermelho. -1,16% para o Ibovespa, -1,68% para o S&P 500.
A “notícia importante” virá do chefe da economia global, os EUA. Nesta terça sai o Consumer Price Index (CPI, que é o IPCA deles). A inflação americana está 7,9% nos últimos 12 meses, encerrados em fevereiro. Amanhã sai a atualização, com o CPI de março.
Detalhe: o petróleo só chegou a US$ 100 no último dia de fevereiro. Em março, só passou dois dias abaixo desse patamar (15/03 e 16/03) – chegando a picos de US$ 130. Isso pressionou para cima o preço da gasolina e do diesel, e quando os combustíveis sobem os outros preços acompanham.
A expectativa, de acordo com os economistas consultados pela Bloomberg, é a de que a inflação em 12 meses vá a 8,4% agora.
Confirmando-se uma nova alta no CPI, não restará uma pomba viva no Fed. Pombas são o símbolo da manutenção de juros baixos – política “dovish”, de pombinha, que ajuda no crescimento da economia mas traz inflação como efeito colateral .
O oposto disso é a política “hawkish”, de falcão, que combate a inflação às custas do crescimento econômico. Neste momento, o banco central dos EUA já exerce suas qualidade de ave de rapina. Com um CPI persistentemente em alta, seguirá agressivo contra a inflação por um bom tempo. Como isso deprime a economia, o mercado chora.
De véspera, inclusive. Isso lá, por que no Brasil o pessimismo com a inflação ganhou força na última sexta, com o anúncio da maior inflação para um mês na história do plano real. Dureza.
No cenário internacional, o petróleo até deu uma recuada hoje: -4,18%, a US$ 98,48 (primeiro fechamento abaixo de US$ 100 desde 16/03). Cortesia do lockdown Black Mirror de Xangai (vale ver a reportagem de Álvaro Pereira Júnior, do Fantástico, sobre o assunto). Estima-se que o fechamento do centro financeiro da China tenha reduzido a demanda global por petróleo em até 1,3 milhão de barris por dia (meia Petrobras), 50% disso só na redução do consumo do setor aéreo.
Não que seja uma baixa sustentável. Primeiro, que Xangai já anunciou a suspensão do lockdown em 40% da cidade. Segundo, que a Opep+ avisou hoje que as sanções à Rússia devem tirar 7 milhões de barris por dia de petróleo do mercado, e que não tem capacidade para segurar essa bronca produzindo mais – em outras palavras, disse que, sim, o petróleo vai ficar mais caro e pronto, com todos os efeitos inflacionários que isso traz.
E os bancos centrais que lutem.
Até amanhã
Maiores altas
Braskem (BRKM5): 1,88%
Ambev (ABEV3): 1,86%
Energias do Brasil (ENBR3): 1,81%
Cielo (CIEL3): 1,46%
Carrefour (CRFB3): 1,12%
Maiores baixas
BRF (BRFS3): -7,00%
Cogna (COGN3): -5,65%
B3 (B3SA3): -4,94%
WEG (WEGE3): -4,48%
Petz (PETZ3): -4,11%
Ibovespa: -1,16%, aos 118.320 pontos
Em Nova York
S&P 500: -1,68%, aos 4.412 pontos
Nasdaq: -2,18%, aos 13.411 pontos
Dow Jones: -1,19%, aos 34.309 pontos
Dólar: -0,39%, a R$ 4,69
Petróleo
Brent: -4,18%, a US$ 98,48
WTI: 2,32%, a US$ 98,26
Minério de ferro: -2,04%, US$ 151,90 por tonelada em Cingapura.