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Elon Musk leva Twitter por US$ 44 bi. O que o bilionário quer com a rede?

Dinheiro não deve ser: Twitter deu prejuízo de US$ 1,6 bi nos últimos dois anos.

Por Tássia Kastner e Bruno Carbinatto
Atualizado em 25 abr 2022, 18h10 - Publicado em 25 abr 2022, 18h08
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  • Ele ataca novamente: 21 dias depois de se tornar o maior acionista do Twitter, Elon Musk conseguiu o que queria – vai ser o dono de toda a rede social do passarinho. A empresa anunciou hoje que chegou a um acordo com o homem mais rico do mundo e será totalmente adquirida por Musk numa transação avaliada em quase US$ 44 bilhões, ou US$ 54,20 por ação. Os papéis do Twitter fecharam com alta de 5,66% nesta segunda-feira após a divulgação da notícia, a US$ 51,70 (um valor 4,61% menor que o pago por Musk).

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    O acordo encerra (aparentemente) uma longa novela envolvendo o bilionário e a rede social, mas cria problemas sociais profundos. Há tempos, países vêm questionando o controle excessivo das big techs sobre o debate público. Agora, uma das praças ficará sob o controle de uma pessoa só – e sem nem ao menos o escrutínio do mercado financeiro.

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    Musk, que tem mais de 83 milhões de seguidores no Twitter e postagens que passam dos milhões de curtidas rapidamente, é crítico das diretrizes da empresa há bastante tempo. Em março deste ano, ele endureceu seus comentários contra o passarinho azul e fez uma série de enquetes em seu perfil para saber que mudanças seu público gostaria de ver na rede – na época, ele já havia comprado as ações da empresa, mas a notícia só viria à tona semanas depois – contrariando as regras da SEC (a comissão de valores mobiliários dos EUA).

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    No dia primeiro de abril deste ano, as ações da empresa fecharam a US$ 39,31. Foi o último pregão antes da notícia de que ele havia comprado 9,1% dos papéis da empresa. De lá para cá, as ações passaram por um rali de 31,5%. A verdade, porém, é que Musk começou a comprar ações quando elas estavam na faixa de US$ 32.

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    A obsessão de Musk com o Twitter, ao menos publicamente, gira em torno da liberdade de expressão na rede. O bilionário defende uma visão irrestrita do conceito, e é contrário à atual política de exclusão de publicações e contas da rede por coisas como discurso de ódio ou fake news, a qual ele considera pouco transparente. Ainda não está claro quais mudanças Musk defende nesse quesito – embora, pelo seu discurso, é possível supor que nada, ou muito pouco, será excluído da rede, mesmo que seja falso.

    “Espero que até meus piores críticos permaneçam no Twitter, porque é isso que significa liberdade de expressão”, escreveu o dono da Tesla em uma publicação na própria rede após a notícia da aquisição. Em poucas horas, a postagem ultrapassou os um milhão de curtidas.

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    Dá para ilustrar a questão com o ex-presidente americano Donald Trump. A rede não andava com a melhor das popularidades, mas a maré virou quando o republicano decidiu usar o Twitter como site oficial do governo – e também atacar a imprensa e críticos. 

    Só que houve um limite. Trump tuitou sem parar contra o resultado das eleições em que foi derrotado. E instigou apoiadores em um movimento que culminou com a invasão do Capitólio para tentar impedir a certificação do resultado da eleição que elegeu Joe Biden. A invasão foi no dia 6 de janeiro; dois dias depois, Trump foi banido da rede. Na decisão, o Twitter alegou que Trump incitava a violência em suas publicações.

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    Musk não comentou publicamente sobre como lidaria com a questão de Trump, mas as apostas são de que a conta do ex-presidente seria restaurada. De qualquer forma, o republicano se pronunciou após a notícia da aquisição dizendo que não tem interesse em voltar ao Twitter – ele está lançando sua própria rede social para concorrer com o aplicativo, chamada Truth Social, e quer ficar por lá. 

    A compra de Musk, aliás, é má notícia para Trump. Ambos compartilham as críticas sobre liberdade de expressão na plataforma, e Trump usava esse argumento para atrair usuários para sua rede, onde não haveria exclusão de postagens. Só que, com a mudança muskiana no Twitter, a rede de Trump afundou na amargura. As ações da Digital World Acquisition Corp (a SPAC que planeja se fundir com a Trump Media & Technology Group) caíram 8,91% só hoje. Desde que Musk anunciou seu plano de comprar o Twitter, a queda acumulada é de mais de 40%.

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    Por aqui, Jair Bolsonaro – que também já teve postagens deletadas pelo Twitter por incluírem informações falsas – comemorou com likes e retweets a compra de Musk. Bolsonaristas como Luciano Hang, Carla Zambelli e o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, também celebraram o acordo.

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    Só tem um detalhe. O novo dono da rede diz que o número de usuários é inflado por contas de robôs, e quer que todas as contas passem por verificações. Se vai rolar, não se sabe. O lance é que os 217 milhões de usuários tornam o Twitter uma rede relativamente pequena quando comparada com os mais de 2 bilhões de clientes de Facebook e cia. 

    A diferença de tamanho também pode ser medida pelo valor de mercado. O Facebook vale hoje US$ 504 bilhões. Musk comprou o Twitter por US$ 44 bi. 

    De alguma maneira, isso também explica por que o Twitter nunca conseguiu gerar resultados sólidos. No ano passado, o prejuízo foi de US$ 221,4 milhões. Em 2020, o rombo havia sido de US$ 1,34 bilhão. Agora, Musk terá que tapar o buraco ou descobrir a fórmula mágica para fazer a rede dar lucro de maneira consistente.

    Um usuário ironizou: ​​“Elon Musk, bem vindo ao clube das pessoas que perdem dinheiro com o Twitter.”

    Enquanto defende a liberdade irrestrita de expressão, Musk também apoia a criação do botão para editar tuítes, uma das ferramentas mais polêmicas – não à toa, nunca saiu do papel. Faz sentido. Parte do princípio de viralização na rede é o retuíte. Se a postagem for editada, o conteúdo do compartilhamento também sofreria alterações. Uma mensagem que diga “eu odeio laranjas” poderia se transformar em “eu amo laranjas”. Transponha isso para a política e veja o estrago. 

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    Nas bolsas

    A notícia do dia também ajudou a dar um fôlego aos investidores. Depois de passar grande parte do pregão no vermelho por causa do avanço da Covid-19 na China, os índices acionários americanos viraram no final do dia e fecharam todos com altas (veja abaixo).

    No país asiático, a preocupação é com o aumento de casos em Pequim, o que poderia levar o governo a decretar um rigoroso lockdown na capital assim como aconteceu em Xangai. O petróleo caiu 3,76% em Londres, e o minério de ferro desabou 9,8% em Cingapura.

    Já a guinada na direção do Twitter veio justamente numa semana crítica para as techs. Alphabet (do Google), Apple, Amazon e Meta (do Facebook) divulgam seus resultados trimestrais nesta semana, e as expectativas são altas. Na semana passada, a Netflix foi a primeira das empresas com selinho de “tech” a liberar seu balanço, com números considerados péssimos pelo mercado, injetando uma boa dose de pessimismo.

    As condições já não são boas para empresas com alto potencial de crescimento, já que o Fed está aumentando os juros em ritmo acelerado para combater a inflação. Os números das big techs vão mostrar se elas têm força para enfrentar esse cenário com mais ou menos conforto. 

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    Por aqui, o Ibovespa até seguiu a recuperação dos EUA no fim do pregão, mas não foi suficiente para virar o terreno e fechou no vermelho pelo sexto dia seguido: -0,35%. As expectativas com a menor demanda vinda da China derrubam ações de commodities, que mandam e desmandam na nossa bolsa, e os investidores estrangeiros já começaram a tirar o dinheiro daqui.

    Até amanhã.

    Maiores altas

    Cogna (COGN3): 3,57% 

    CEMIG (CMIG4): 2,87%

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    Petz (PETZ3): 2,85%

    YDUQS (YDUQ3): 2,52%

    Ambev (ABEV3): 2,51%

    Maiores baixas

    BRF (BRFS3): -3,65%

    CSN (CSNA3): -2,64%

    Grupo Soma (SOMA3): -2,56%

    Natura (NTCO3): -2,10%

    Gerdau (GGBR4): -2,02%

    Ibovespa: -0,35%, aos 111.684 pontos

    Em Nova York

    S&P 500: 0,58%, aos 4.296 pontos

    Nasdaq: 1,29%, aos 13.004 pontos

    Dow Jones: 0,71%, aos 34.052 pontos

    Dólar: 1,47%, a R$ 4,8755

    Petróleo

    Brent: -3,76%, a US$ 102,16 por barril

    WTI: – 3,46%, a US$ 98,54 por barril

    Minério de ferro: -9,80%, negociado a US$ 136 por tonelada em Cingapura

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