Depois de uma espiral negativa que fez o Ibovespa cair 6,7% em outubro, o tempo parece lentamente clarear na Faria Lima após a aprovação da PEC dos Precatórios na Câmara dos Deputados. A sensação é que o mercado pode ter exagerado no pessimismo com o cenário fiscal e, com uma solução encaminhada, agora é hora de tirar o atraso. Pelo menos por hoje, o Ibovespa operou em forte alta nesta quinta-feira: 1,54%, retomando os 107 mil pontos. O dólar caiu 1,74%.
É que a PEC dos Precatórios é o menor dos males. Partindo do pressuposto de que o governo Bolsonaro não vai abrir mão de seu Bolsa Família turbinado em ano eleitoral, é melhor que haja algum tipo de regra para as contas públicas do que continuar pagando o Auxílio Emergencial via créditos extraordinários (que não entram no teto) – um plano B ainda mais caótico. Lembrando: a PEC pedala parte das dívidas do governo de 2022 para os anos seguintes e muda a metodologia de cálculo do teto de gastos, liberando um total de R$ 91,6 bilhões para o governo gastar.
O próprio governo vem apostando nesse argumento para acalmar o mercado. Segundo apurou o Estadão, o novo secretário especial de Tesouro e Orçamento, Esteves Colnago, vem promovendo encontros com players do mercado financeiro para justificar que a PEC é a melhor saída para o impasse orçamentário e fazer as pazes entre a Faria Lima e Brasília. Um dos pontos levantados a favor do projeto é que ele já dimensiona o tamanho do rombo com antecedência – e o mercado gosta dessa previsibilidade.
A proposta ainda tem que ser aprovada no Senado, mas o fato de que o texto passou nas duas votações da Câmara, inclusive com votos de deputados de partidos de oposição, dá forças à ideia de que o governo conseguirá negociar uma aprovação completa da lei. Nisso, o mercado se aliviou com uma solução (ainda que imperfeita) para a incerteza fiscal que assombrava o Ibovespa há algum tempo e continuou a recuperação iniciada ontem.
De novidade nesta quinta-feira, o IBGE divulgou que as vendas no varejo brasileiro caíram 1,3% em setembro ante agosto, e 5,5% em comparação com o mesmo período do ano passado. Natural: com a inflação decolando, as pessoas compram menos.
Mas o mercado decidiu ver o copo meio cheio: se a economia anda tropeçando, o Banco Central não tem muito espaço para aumentar os juros (que desestimulam ainda mais o consumo). Aí os temores de que a Selic pode subir 2 pontos percentuais na próxima reunião do Copom, ao invés de 1,5 p.p., foram reduzidos.
Bem, nem precisa apostar, na verdade. A diretora do Banco Central Fernanda Guardado mesmo falou hoje que o ritmo de aperto da Selic em 1,5 ponto porcentual ainda “parece apropriado”. Nisso, os juros futuros caíram.
Vale e cia
Outros dois motivos para justificar o otimismo vieram da China. Segundo informações da Bloomberg, a Evergrande pagou a credores, dentro do prazo, os juros de três títulos em dólares. As coisas não continuam nada bem para a incorporadora, mas a notícia ajudou a aliviar o medo de que uma falência da empresa contamine a economia chinesa.
Nisso, o preço do minério de ferro subiu 4,13% em Qingdao, levando junto nossas empresas de mineração e siderurgia, com destaque para a Vale (3,53%). Investidores também esperam bons ares futuros para toda-poderosa do Ibovespa e suas companheiras de setor com o plano trilionário de infraestrutura americano, que já foi aprovado no Congresso e deverá ser sancionado por Biden em breve.
Do outro lado…
Quem não aproveitou a onda de otimismo de hoje foi a Via (antiga Via Varejo). É que a dona das Casas Bahia e Ponto Frio divulgou, em seu balanço trimestral, a reserva de mais R$ 1,2 bilhão para pagar processos trabalhistas. A varejista já tinha cerca de R$ 1,3 bi separados para problemas na Justiça, levando o total de gastos com esse fim a R$ 2,5 bi.
Em 2011, a Via começou a apostar na estratégia de enxugamento do seu quadro de funcionários para melhorar a rentabilidade. Mas, com isso, veio uma enxurrada de processos trabalhistas que agora pesam nas contas da empresa.
As ações da Via despencaram 12,48% no pregão de hoje, liderando com folga as maiores perdas do índice. O cenário de juros e inflação altos também não ajuda em nada a melhorar as expectativas da varejista. O Credit Suisse trocou a recomendação de “compra” dos papéis VIIA3 para “venda”. A companhia tenta se defender, dizendo que os problemas são decorrentes de políticas passadas da empresa, que já mudaram. Mas não colou.
Maiores altas
Méliuz (CASH3): 10,34%
Azul (AZUL4): 9,83%
CSN (CSNA3): 7,46%
Banco Pan (BPAN4): 7,39%
Banco Inter – PN (BIDI4): 6,33%
Maiores baixas
Via (VIIA3): -12,48%
Braskem (BRKM5): -2,94%
Taesa (TAEE11): -2,40%
RaiaDrogasil (RADL3): -2,39%
Minerva (BEEF3): -1,91%
Ibovespa: 1,54%, aos 108.669 pontos
Em Nova York
S&P 500: 0,06%, aos 4.649 pontos
Nasdaq: 0,52%, aos 15.704 pontos
Dow Jones: -0,44%, aos 35.921 pontos
Dólar: -1,74%, a R$ 5,4042
Petróleo
Brent: 0,28%, a US$ 82,87
WTI: 0,31%, a US$ 81,59
Minério de ferro: 4,13%, negociado a US$ 92,57 por tonelada no porto de Qingdao (China)