O Ibovespa subiu de escada e desceu de elevador. Depois de subir 16% nos três primeiros meses do ano, o índice precisou de apenas um mês para devolver 13% de tudo. Com a queda de 2,81% hoje, o saldo de 2022 agora é de míseros 0,46%. A pontuação neste momento (105.304) está no mesmo patamar de setembro de 2019, dois anos e nove meses atrás. Um jegue empacado.
“É por isso que tem de dolarizar os investimentos!”, diria aquele pessoal do mercado que desenvolveu alergia ao real. Calma povo. Quem dolarizou se trumbicou mais ainda. O S&P 500 cai 10% no ano. A Nasdaq, então, nem se fala. Depois do banho de sangue de hoje (-4,99%), a casa das big techs já soma um tombo de 21% em 2022.
Ah, sim. O dólar voltou a subir e tal. Mas a moeda americana ainda perde para o real no ano. Ela começou 2022 em R$ 5,60, afinal. Alta de hoje (2,30%) à parte, então, o dólar cai 10% no ano – o que dá uma dor de cabeça extra para quem trocou ações brasileiras por americanas, ou aquele ETF de Ibov por um de S&P 500.
A razão da baixa de hoje nas bolsas é a de sempre: certeza receio de que um inverno de juros altos, que tornam o dinheiro uma “mercadoria” escassa, se abaterá sobre os mercados de forma tenebrosa, e por um bom tempo – já que há muita inflação a ser combatida. E o único remédio contra a inflação é tornar o dinheiro mais caro.
Temia-se até mais. Ontem as bolsas subiram porque o pior cenário (um eventual aumento de 0,75% por parte do Fed) não se concretizou. A alta por lá ficou um 0,50%. Mas o resultado de hoje deixa claro que aquele foi um movimento de otimismo exagerado.
Hoje foi uma volta à realidade: a de que a era do dinheiro barato acabou, e que só vai voltar quando a onda global de inflação tiver se dissipado – o que não tem data marcada para acontecer. E infelizmente não dá para chamar a inflação para uma mesa de bar e dizer “Pô, infla. Segura a bronca aí. Vamos ficar na paz…”. Ela não é muito de conversa.
Derretimento da Totvs
A sangria desatada das techs gringas nesta quinta espirrou por aqui na forma da queda dos papéis da Totvs (-11,62%). A gigante dos softwares de gestão empresarial apresentou seus resultados para o 1T22 ontem (04/05). E eles vieram bons: Ebitda (basicamente lucro antes de impostos e pagamento de dívidas) de R$ 223 milhões, 17,5% acima do mesmo período do ano passado.
O problema é que esperava-se mais do braço financeiro da Totvs, a Techfin, que faz antecipação de recebíveis a empresas – ou seja, concede crédito tendo como garantia dinheiro que o cliente tem a receber mais adiante. A receita dela tinha sido de 91,8 milhões no 4T21. Neste agora caiu 10%, para 82,6 milhões. E o mercado não gostou. A expansão da Techfin, afinal, é algo no qual os investidores da Totvs mais têm apostado suas fichas. Exagero ou não, o fato é que as ações seguem caras, mesmo com a queda: P/L de 45, bem acima da surrada média do Ibovespa, de 7 (entenda melhor aqui).
Bitcon: -9%
Outro ativo com muitas fichas depositadas é o Bitcoin. Queda de 9% nas últimas 24 horas (até as 17h30 de hoje), a US$ 36,3 mil. O bitcoin tinha passado bem pela declaração agressiva de Warren Buffett no sábado passado – a de que ele não compraria o ativo “nem se lhe oferececem todos os bitcoins do mundo por US$ 25”. Mas não aguentou o mau humor de hoje.
Os defensores do bitcoin costumam dizer que a escassez é o grande trunfo da cripto (o suprimento de BTC jamais será superior a 21 milhões de unidades). Mas, claro: os bancos centrais também sabem o valor da escassez – ao subir os juros, o que eles fazem é justamente tornar a moeda fiduciária mais escassa, até que ela pare de perder valor. E num mundo com dinheiro mais escasso sobra menos para contrariar Buffett e apostar em cripto.
Até amanhã
Maiores altas
Metalúrgica Gerdau (GOAU4): 4,16%
Suzano (SUZB3): 2,69%
Gerdau (GGBR4): 2,26%
Klabin (KLBN11): 0,63%
Maiores baixas
Totvs (TOTS3): -11,62%
Magalu (MGLU3): -10,71%
Inter (BIDI11): -9,17%
Cielo (CIEL3): -9,06%
Hapvida (HAPV3): -7,59%
Ibovespa: 2,81%, a 105.304 pontos
Em NY:
S&P 500: 3,55%, a 4.147 pontos
Nasdaq: 4,99%, a 12.317 pontos
Dow Jones: 3,11%, a 33.001 pontos
Dólar: 2,30%, a R$ 5,0165
Petróleo
Brent: 0,69%, a US$ 110,90
WTI: 0,42%, a US$ 108,26
Minério de ferro: 0,79%, US$ 144,55 no porto de Qingdao (China)