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Ibovespa sobe, mas é o dólar a R$ 5,70 que ajuda a medir o caos econômico

Ações de bancos subiram mesmo depois do aumento de impostos. Dólar disparou em dia que Guedes previu a transformação de Brasil em Argentina e Venezuela.

Por Luciana Lima e Tássia Kastner
Atualizado em 3 mar 2021, 12h17 - Publicado em 2 mar 2021, 20h37
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 (Laís Zanocco/VOCÊ S/A)
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Se a sua internet tivesse caído na noite de segunda, e você tivesse passado o dia offline brigando com a sua operadora, poderia acreditar que magicamente os problemas do país  foram resolvidos. 

É que o Ibovespa subiu 1,09% nesta terça-feira (2), mesmo com mais um dia negativo no exterior: o índice terminou de volta aos 111.539 pontos. Foi a esperança que fez a bolsa subir. Mas foi só isso mesmo, porque o caos continua.

Os bancos puxaram a alta um dia depois de o governo anunciar o aumento de impostos sobre instituições financeiras para subsidiar a isenção de tributos sobre o gás de cozinha e o diesel. Na última meia hora de pregão saiu a notícia com os detalhes da Medida Provisória que aumenta de 20% para 25% a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, a CSLL, sobre as grandes instituições até 31 de dezembro. 

Na segunda, bancões haviam terminado o pregão na lona só pelo anúncio de que a MP viria. No começo desta terça-feira, a carnificina continuava — mas num passe de mágica a maré virou. Esperança, quer ver?

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou pela manhã a banqueiros que a alta seria temporária. Ao Estadão, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, disse que o “temporário” de Guedes era de seis meses. Uma informação que já não bateu. 

Tem mais. Sidney afirmou que o imposto adicional deixará o crédito mais caro. Ninguém achou que os bancos iriam engolir o preju, né? O presidente do Banrisul afirmou que essa “pequena alta” pode significar crédito até 10% mais caro.

A XP não entrou na discussão de custo de crédito e do repasse aos clientes. Previu apenas um impacto no lucro dos bancos, com a CSLL mais alta, de no máximo 3,7%. Completou pedindo pra galera se acalmar e afirmando que a reação de ontem “havia sido exagerada”. Bom, a própria XP agora é banco e também paga CSLL maior.

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Não é de hoje que as ações dos bancos vem apanhando na bolsa (no acumulado do ano, algumas instituições estão perdendo até 20%). Então, depois dos panos quentes, teve gente achando que os papéis dos bancões estavam mesmo uma verdadeira pechincha. E, de patinhos feios, eles foram alçados a estrelas do pregão. No final, terminaram o dia nas alturas. Itaú ganhou 4,04%, Santander avançou 3,14%, Bradesco cresceu 2,70% e Banco do Brasil aumentou 3,84%. 

A Vale também ajudou a empurrar o Ibovespa. Além de o minério de ferro ter fechado o dia em alta de 0,57%, contribuiu o fato de que o BTG elevou o preço-alvo da mineradora de   US$ 21 para US$ 27. 

Segundo os analistas do banco, o minério e outras commodities vão continuar a escalada de preços – o que deve beneficiar a Vale. De acordo com eles, com isso, a expectativa é que a empresa cresça de US$ 8 bilhões para US$ 12 bilhões o pagamento de dividendos neste ano. De olho nesse cofre, os investidores encheram o carrinho com os papéis da companhia, e a Vale terminou em alta de 3,07%. 

O desempenho de bancos e Vale até jogaram o Ibov pra cima, mas está longe de ser uma medida adequada do caos em que o Brasil está mergulhado. 

O dia amanheceu com o dólar disparando a R$ 5,70. Era culpa desse swap de impostos do governo (trocando combustível por banco) e do zero esforço de cortar despesas para pagar a nova rodada do auxílio emergencial. 

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Foi até engraçado (se você tiver uma veia sádica) porque, também pela manhã, saiu uma entrevista concedida pelo ministro Guedes ao podcast do influencer Thiago Nigro, o Primo Rico. Lá ele afirmou que o Brasil poderia virar uma Argentina em seis meses e uma Venezuela em um ano e meio. Era para ser um recado sobre o agravamento das condições econômicas do país — resta saber se para ele mesmo, como ministro da ECONOMIA, para o presidente Bolsonaro ou para o Congresso.

Bem, uma das últimas profecias simbólicas do ministro foi justamente sobre o dólar. Guedes disse que a moeda poderia ir a R$ 5, se ele fizesse muita besteira. A frase fará um ano na sexta-feira e, naquela época, o dólar custava R$ 1,10 a menos (R$ 4,60). A moeda americana terminou esta terça em alta de 1,17%, cotada a R$ 5,66. Só tirou o pé do acelerador depois de o BC queimar US$ 2 bilhões das reservas para conter a disparada do começo da manhã.

Os juros também dispararam. No fechamento, os juros para janeiro de 2022 pularam de 3,81% para 3,85%. Já as taxas para janeiro de 2023 aumentaram de 5,73% para 5,77%. A coisa tá tão descompensada que o mercado financeiro está apostando que a Selic subirá para 2,50% na reunião deste mês, algo até outro dia impensável dado o estado lastimável da economia brasileira depois da pandemia — o estrago deixado em 2020 será conhecido amanhã, quando o IBGE divulgar o PIB.

E não há nada realmente sendo feito para resgatar o país do caos. A esperança de curto prazo era a PEC Emergencial (aquela que o mercado confiava que seria a salvação, pois criaria gatilhos fiscais contra o endividamento), que desidratou e chegou no volume morto. 

A proposta foi apresentada no plenário pelo senador Márcio Bittar (MDB-AC) e: 1) a nova rodada do auxílio emergencial, que vai custar em torno de R$ 30 bilhões a R$ 40 bilhões, foi incluída sem nenhuma contrapartida de corte no Orçamento; 2) embora não tenha sido incluído no texto final, os senadores pretendem levar ao congresso, na discussão de amanhã, a proposta de que os gastos com o Bolsa Família, de cerca de R$ 34,9 bilhões, também fiquem de fora do teto. A única medida que sobra é a de congelar salários de servidores quando as despesas atingirem 95% do Orçamento da União. 

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Como disse o perfil do Twitter @FariaLimaElevator, o teto de gastos virou um rooftop e agora tá rolando uma festa. É bom pegar um guarda-chuva para fugir quando a tempestade interromper a farra. 

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Maiores altas

Itaú: 4,04%

Banco do Brasil: 3,84%

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Santander: 3,14%

Vale: 3,07%

B3: 3,05%

Maiores baixas

Braskem: 3,99%

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Azul: 3,14%

Pão de Açúcar: 3,04%

Gol: 2,94%

Estácio: 2,92%

Em NY: 

Dow Jones: -0,46%, aos 31.390 pontos

S&P 500: -0,81%, aos 3.870 pontos

Nasdaq: -1,69%, aos 13.358,79

Petróleo:

Brent (referência internacional): -1,47%, cotado a US$59,75 o barril. 

WTI (referência nos EUA): -1,81%, cotado a US$ 62,54 o barril.

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