O velho imperativo continua atual: never bet against America.
Hoje, os investidores receberam mais um lembrete da força da economia americana. Divulgado pela manhã, o PIB do país veio mais forte que o esperado: no 4TRI de 2023, alta de 3,3% em relação ao mesmo período de 2022. A expectativa era de +2%. No acumulado de 2023, o crescimento foi de 2,5%.
O departamento de estatística dos EUA atribuiu a alta, em especial, ao aumento do consumo de bens e serviços. Isso mostra que a população tem sustentado seu apetite por gastos mesmo sob o cenário de juros altos. Atualmente, a taxa de juro por lá está estacionada em 5,5%, o maior patamar em mais de 22 anos.
O crescimento mais forte do que o esperado é um mau sinal para o mercado. Pelo seguinte: juros altos servem para tirar dinheiro de circulação e desaquecer a economia, única forma viável de se combater a inflação.
O dado ainda robusto, então, poderia significar que o aperto monetário até aqui não tem sido suficiente para frear o país.
Por sorte, o PIB veio acompanhado de outro indicador: o PCE trimestral, que mede a inflação ao consumidor. Ele mostrou que, no 4TRI, os preços subiram 1,7% – uma desaceleração considerável em relação aos 2,6% do 3TRI. O núcleo do PCE, que exclui preços de energia e alimentação (mais voláteis) ficou em 2%, mesmo valor do trimestre anterior.
O número anima, já que 2% para o núcleo do PCE é precisamente o alvo de inflação perseguido pelo Fed, o BC americano. Só que tem um detalhe: a meta vale para o índice mensal. Este será divulgado amanhã, às 10h30.
A última divulgação do indicador revelou que, em novembro, o PCE teve alta anual de 3,2%. Ainda distante do alvo do Fed.
Ainda assim, o dado trimestral ajudou na sensação de missão cumprida no combate à inflação. Bom para as bolsas: o S&P 500 fechou em alta de 0,53%.
O índice Nasdaq, com forte presença do setor de tecnologia, teve alta mais singela: 0,18%. Culpa da Tesla, que pesou o clima com resultados decepcionantes para o mercado.
A companhia registrou um faturamento de US$ 25,2 bilhões no 4TRI, abaixo dos US$ 25,9 bi projetados por analistas. Já o lucro caiu 39%, frente a um cenário de aumento da concorrência no ramo de carros elétricos (entenda aqui).
No Brasil, o Ibovespa também fechou o dia em alta, puxado pelos papéis da Petrobras (PETR4 +3,69%).
A petroleira acompanhou a cotação do petróleo, que subiu 2,9% lá fora. Tem a ver com expectativas de aumento da demanda pela commodity, puxadas pela promessa de mais estímulos chineses à economia.
Há também o dado de estoque de petróleo nos EUA, divulgado ontem: segundo o Departamento de Energia (DoE), o número de barris guardados no país diminuiu 9,2 milhões em relação à semana anterior – bem mais do que as expectativas de queda de 1,4 mi. Isso sinaliza que, por lá, a procura pela commodity tem aumentado.
Por aqui, a disparada das ações da Petrobras elevaram o valor de mercado da companhia ao recorde histórico, a R$ 525,6 bilhões.
VALE3: -2,20%
Hoje, completam-se cinco anos desde o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, tragédia que matou 270 pessoas e espalhou resíduos poluentes pela bacia do Rio Paraopeba.
O evento foi considerado um dos maiores desastres ambientais da história do país, atrás apenas do rompimento da barragem de Mariana – que também teve participação da Vale (entenda detalhes do caso aqui).
No dia de aniversário de um desastre, a decisão judicial sobre outro: hoje, a Justiça condenou as três mineradoras envolvidas no caso de Mariana (Vale, Samarco e BHP) a pagar uma indenização de R$ 47,6 bilhões + correções.
Criada para gerir a reparação de danos após os desastres, a Fundação Renova alegava já ter desembolsado R$ 30,7 bilhões até julho de 2023.
O valor pedido pela Justiça brasileira ainda é bem menor do que os R$ 230 bilhões exigidos por uma ação coletiva que corre em Londres contra a BHP – e passou a envolver a Vale no ano passado. Ao todo, mais de 700 mil brasileiros participaram da ação.
Ainda assim, a condenação divulgada hoje pesou sobre as ações VALE3, que caíram -2,20% no pregão – apesar da alta de 1,60% no minério lá fora.
Não foi só o fator Mariana. Tem também uma inquietação política: corre o rumor de que Lula tenta emplacar o ex-ministro Guido Mantega como próximo CEO da companhia.
O contrato de Eduardo Bartolomeo, atual ocupante do cargo, termina em 31 de maio. O Conselho de Administração da Vale deve anunciar até 31 de janeiro se o executivo continua ou não no cargo.
A possibilidade de interferência política reacende memórias traumáticas de 2011, quando Lula conseguiu retirar Roger Agnelli da presidência da companhia.
O mercado tem se consolado com a crença de que, de lá para cá, a Vale adotou políticas de governança que dificultam movimentações políticas do tipo. A ver.
Até amanhã!
MAIORES ALTAS
Magazine Luiza (MGLU3): 7,81%
Azul (AZUL4): 6,02%
Assaí (ASAI3): 4,86%
Petrobras ON (PETR3): 4,63%
Petrobras PN (PETR4): 3,69%
MAIORES BAIXAS
Yduqs (YDUQ3): -4,40%
Gol (GOLL4): -3,15%
Pão de Açúcar (PCAR3): -2,61%
Vale (VALE3): -2,20%
Hypera (HYPE3): -1,92%
Ibovespa: 0,28%, a 128.168 pontos
Em Nova York
S&P 500: 0,53%, aos 4.894 pontos
Nasdaq: 0,18%, aos 15.510 pontos
Dow Jones: 0,64%, aos 38.049 pontos
Dólar: 0,19%, a R$ 4,92
Petróleo
Brent: 2,93%, a US$ 81,96
WTI: 3,02%, a US$ 77,36
Minério de ferro: 1,60%, a US$ 139,16 por tonelada na bolsa de Dalian (China)