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Incertezas com as contas públicas derrubam o Ibovespa e catapultam os juros

A aversão ao risco bateu. Queda de 1,11% na bolsa, com juros de títulos públicos ultrapassando a barreira dos 10%.

Por Bruno Carbinatto, Alexandre Versignassi
Atualizado em 17 ago 2021, 15h58 - Publicado em 12 ago 2021, 18h25
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 (Laís Zanocco/VOCÊ S/A)
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Até outro dia, uma dívida pública de 60% do PIB já ligava a sirene. Agora, ela está em 84%. E a pressão para que o governo gaste ainda mais vem de dentro do próprio governo. Bolsonaro, visando a reeleição, não abre mão de um Bolsa Família turbinado (o chamado Auxílio Brasil).

Guedes tenta arrumar o dinheiro empurrando com a barriga as dívidas empurráveis (precatórios). No meio de tudo isso, uma reforma no Imposto de Renda que era para ter entrado em votação, mas que também acabou pedalada (para a próxima terça). Uma reforma que tem o potencial de desagradar gregos e troianos. De um lado, empresas talvez não consigam os cortes de tributos que desejam; do outro, um governo que nem mantendo taxas altas dá pinta de ter um plano para sanear as contas públicas. 

E o resultado é um tsunami daquilo que o povo da renda variável mais teme: a aversão ao risco. 

Mede-se a aversão ao risco pelos “juros futuros” – as apostas que o mercado faz sobre o futuro do DI (que, por sua vez, é a taxa de que os bancos cobram para emprestar uns aos outros, e que segue de perto a Selic). 

O DI para janeiro de 2022 subiu 5 pontos-base hoje, de 6,52% para 6,57%. Para janeiro de 2027, 8 pontos-base, de 9,48% para 9,56%.

Parece pouco. Não é. As altas (seguidas) têm puxado as taxas dos títulos públicos para cima. O governo precisa pagar juros mais altos para rolar sua dívida quando o cenário é de medo de um descontrole nas contas públicas.   

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Há um mês, o IPCA+ pagava a inflação mais 3,80%. Agora está em inflação +4,32%. Os prefixados, que pagam uma taxa cheia, independentemente da inflação, romperam a barreira psicológica dos  10%. O prefixado com juros semestrais e vencimento em 2031 fechou em 10,17%. 

Com títulos públicos pagando taxar mais gordas, quem paga o pato é a bolsa. E tivemos uma queda generalizada hoje, com o Ibovespa fechando em -1,11%, aos 120.700 pontos. Nem o S&P 500 renovando sua máxima histórica nos EUA ajudou.

Algumas das maiores quedas foram, naturalmente, de empresas que divulgaram balanços mal recebidos. A começar pela Ultrapar.

Ultrapar  

O Grupo Ultra tombou chocantes 12,33% Os investidores não se convenceram com os resultados, que mostraram um  prejuízo de R$ 18,2 milhões no segundo trimestre, revertendo um lucro de R$ 50 milhões no mesmo período do ano passado. 

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Não que a empresa tenha mesmo dado prejuízo. A queda fora da curvar foi causada pelo impairment da Extrafarma, um dos negócios do grupo. Então vale a gente aproveitar para explicar esse conceito.

A rede de farmácias foi vendida à Pague Menos em maio – só falta sair a aprovação do Cade. O valor da transação foi de R$ 700 milhões. Beleza, mas, antes de vendê-la, a Ultrapar calculava que a Extrafarma valia mais do que isso. R$ 395 milhões a mais, segundo o “valor de livro”, aquele que aparece nos balanços.

Só que o valor que o mercado estava disposto a pagar (chamado de valor recuperável), que é o que realmente vale, era menor. Aí considera-se que a Ultrapar deve reportar essa diferença como prejuízo, já que o seu ativo, a Extrafarma, se deteriorou. É algo contábil: não é como se a Ultrapar tivesse perdido de repente R$ 395 milhões. Não perdeu nada. 

Sem o impairment, o lucro do grupo Ultrapar foi de R$ 290 milhões. Legal, mas o mercado não curtiu, como deu para ver na queda das ações. É que os valores foram abaixo do esperado: o Ebitda (que é o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização e dá uma ideia melhor de como anda a empresa) veio 20% menor do número calculado pelo BTG Pactual.

Entre todos os negócios do grupo Ultrapar, aquele que mais decepcionou foi justamente o principal: a distribuidora de combustíveis Ipiranga. O jeito clássico de medir o desempenho de uma distribuidora é pegar a margem de lucro que ela obtém na distribuição de combustível

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A margem de lucro para cada metro cúbico de combustível foi mirrada: R$ 53. O Bradesco BBI esperava R$ 86; o BTG Pactual, R$ 90. A BR Distribuidora, sua concorrente, reportou R$ 100 para o mesmo trimestre.

E o mercado não perdoou.

Minerva

Outra grande queda do dia foi de Beef3. É que, ontem, as ações da empresa tinham disparado 14,65% no final do pregão. A coluna Pipeline, do Valor tinha noticiado que a os controladores da companhia consideravam a ideia de fechar seu capital.

A ideia era que eles recomprariam as ações no mercado por R$ 12 cada, um valor 37% maior do que os R$ 8,70 que os papeis valiam antes de a notícia circular. E aí todo mundo foi atrás de comprar a dita cuja, o que fez o preço disparar.

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Só que a Minerva liberou um comunicado ontem mesmo, após o fechamento do pregão, esclarecendo que o boato sobre fechamento de mercado era só isso: um boato. Nada concreto. E toda a euforia de ontem foi devolvida. Feliz de quem aproveitou a montanha russa para especular. E só.

Notredame Intermédica e Hapvida

Do lado das altas, quem liderou foram duas empresas do ramo de planos de saúde, que também liberaram seus balanços ontem após fechamento. Foram a Hapvida (+6.38%) e a Notredame Intermédica (+6.91%), que estão em processo de fusão desde março, aguardando a aprovação do Cade.

A Hapvida teve uma queda de 62,5% em seu lucro no segundo trimestre, que ficou em R$ 104,6 milhões; já a NotreDame Intermédica registrou prejuízo de R$ 48 milhões, revertendo o lucro de  R$ 223,4 milhões  que teve no ano passado.

Sim, são números negativos, mas o mercado está apostando na recuperação das empresas do setor no terceiro trimestre. O principal motivo é que a vacinação contra a Covid-19 está avançando e os números da pandemia, melhorando. Com isso, espera-se que caia a sinistralidade – que é a relação entre o número de procedimentos de saúde feitos sob os planos da empresa e a grana que ela recebe.

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Ou seja: com menos gente ficando doente por Covid-19, menos essas empresas vão ter que gastar com internações e outros procedimentos, por exemplo. E aí os números melhoram. A aposta está lançada. 

JBS

A gigante da carne registrou seu maior lucro da história: R$ 4,4 bilhões, alta de 29,7% no comparativo anual, principalmente por causa do bom desempenho das suas operações na América do Norte. A empresa também anunciou que pagará R$ 2,5 bilhões em dividendos no dia 24 de agosto.

E aí… As ações desabaram. Pode ter sido um grande “compre no boato, venda no fato” (quando muita gente entende que o ciclo de bonança de uma companhia está perto do fim e sai vendendo). De concreto, o que há é o receio com a crise hídrica, que pode fazer o preço dos grãos disparar – aumentando mais ainda o custo das ração dos bois.

O fato é que foi um dia complicado para praticamente todo o mercado de renda variável. E isso só vai melhorar de fato quando houver um horizonte mais claro para os futuros das contas públicas. Ou seja: tem chão. 

Maiores altas

Notredame Intermédica: +6,91%

Hapvida: +6,38%

Fleury: +4,01%

SulAmérica: +2,80%

RaiaDrogasil: +2,75%

Maiores baixas

Ultrapar: -12,33%

Minerva: -11,27%

B3: -7,71%

Via: -7,30%

JBS: -5,85%

Ibovespa: queda de 1,11%, aos 120.700 pontos

Em Nova York

S&P 500: alta de 0,29%, aos 4.460 pontos

Nasdaq: alta de 0,35%, aos 14.816 pontos

Dow Jones: alta de 0,04%, aos 35.499 pontos

Dólar: alta de 0,67%, a R$ 5,2564

Petróleo

Brent: queda de 0,18%, a US$ 71,31

WTI: queda de 0,23%, a US$ 69,09

Minério de ferro: queda de 1,52%, cotado a US$ 162,96 a tonelada no porto de Qingdao (China)

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