Continua após publicidade

Inflação e juro alto fazem vítimas na bolsa: Magalu e Natura

Empresas sofrem com redução do consumo não essencial, reflexo da queda na renda. Com setor de serviços também mais fraco, Ibovespa cai 1,17%.

Por Juliana Américo, Tássia Kastner
Atualizado em 15 nov 2021, 13h26 - Publicado em 12 nov 2021, 18h58
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Sexta-feira, véspera de feriado. Sinônimo de folga, e olha que tem gente precisando muito dela. São os investidores de Natura e Magazine Luiza, empresas cujas ações derreteram nesta sexta, após a divulgação de resultados bem piores que o esperado pelo mercado.

    Até o ano passado, parecia que as ações da Magalu tinham uma única direção: para cima. Bem, para uma empresa que chegou a se valorizar mais de 5.000% desde o IPO, dava para entender. Em 2021, porém, o cenário mudou. A companhia acumula queda de 50% e os resultados do terceiro trimestre não ajudaram a estabilizar os ânimos dos investidores.

    O lucro da companhia caiu 30% no terceiro trimestre. O resultado verdadeiro da companhia foi ainda pior. É que o lucro acabou turbinado por créditos tributários – se a empresa não tivesse contado com essa forcinha, o tombo teria sido de 90% no lucro. Os acionistas reagiram mal a esse resultado: queda de 17,73% nos papéis da varejista, o maior tombo do dia. 

    O desempenho foi pior nas lojas físicas, onde o faturamento recuou 8% – sem as unidades novas abertas no período, a queda foi de quase 15%. Segundo a companhia, o varejo físico atende a um público mais sensível à crise que se instala sobre o país. Em contrapartida, o e-commerce se saiu bem melhor e cresceu 22,2%, mas não o bastante para compensar o estrago.

    E bota crise. Na carta a investidores que acompanhou a divulgação de resultados, a companhia afirmou que “uma tempestade perfeita se armou sobre a economia brasileira. As nuvens se formaram surpreendentemente rápido. A inflação disparou, fazendo com que os juros chegassem ao maior patamar em quatro anos. O atual cenário econômico é turbulento e desafiador para as empresas que atuam no mercado interno e, particularmente, no varejo – e deve permanecer assim, pelo menos no curtíssimo prazo”.

    Estamos falando de uma alta de preço de 10,25% nos 12 meses encerrados em outubro, quase tão alta quanto a inflação registrada no pior momento do governo Dilma. Nisso, o Banco Central precisa subir os juros para enxugar o dinheiro da economia e conter a sanha inflacionária. O efeito colateral desse remédio é deixar o crédito mais caro, e inibir as compras. 

    Continua após a publicidade

    Quem sofre não são só as geladeiras, mas qualquer coisa que não seja considerada consumo essencial, como é a comida. 

    Aqui entram maquiagens e perfumes da Natura, que amargou a segunda maior queda do dia na B3: -16,62%. Pudera, o lucro da empresa tombou 28,5% no terceiro trimestre quando comparado com igual período de 2020 – foi para R$ 272,9 milhões. A receita caiu 4,2%, chegando aos R$ 9,5 bilhões. 

    Hoje, mais de 70% das receitas da companhia são geradas no exterior. Ainda assim, a culpa do resultado ruim que destroçou o balanço da companhia foi o  do Brasil. Por aqui, o faturamento caiu entre 15% e 20%, considerando Natura e Avon. Além dos problemas econômicos, a companhia ainda padeceu da falta de suprimentos para seus produtos, um fenômeno global que afeta de carros a computadores, passando por outras indústrias, como a de cosméticos. 

    Outro fenômeno que abalou a confiança dos investidores foi o anúncio de que a companhia pretende deixar a B3 e migrar para Nova York – tem mais gente nessa fila, como o Inter, a Americanas e a Locaweb. Ter ações lá fora ajuda a atrair investidores gringos, que têm mais dinheiro que o brasileiro, ainda mais agora que a B3 entrou em um inverno fora de época.

    Nem a notícia que poderia ser boa acalmou os investidores. A Natura anunciou um programa de recompra de ações, algo que empresas costumam fazer quando estão dando lucro e acreditam que o mercado financeiro não está avaliando corretamente o valor da companhia. Nisso, a tendência é que os papéis reajam positivamente. A Natura vai comprar até 4,4% das suas ações.

    Continua após a publicidade

    Natura e Magalu fazem parte de um segmento chamado de consumo cíclico. Elas dependem do crescimento da economia – e para o próximo ano, o cenário é ainda pior. Economistas esperam que o crescimento ficará abaixo de 1%, com risco real de voltarmos à recessão. 

    Pé frio da temporada

    Até semana passada, quem olhava para os resultados das companhias poderia até achar que as grandes empresas do país conseguiriam passar ilesas à tormenta que se avizinha. De acordo com a XP, até o dia 7 de novembro 60% das empresas do Ibovespa já tinham divulgado os seus balanços. E 76% deles estavam acima das expectativas do mercado.

    Mas agora, já no fim da temporada, os investidores começaram a levar sustos como os de hoje e ontem. Se você não acompanhou o fechamento de ontem, a gente te situa: a Via (antiga Via Varejo) ficou meio que na mesma. Teve lucro de R$ 101 milhões, o que representa uma alta de 1%. O Ebitda foi um pouco melhor, com alta de 6,7%. 

    O problema é que, além de estar abaixo do esperado e de sofrer com a inflação, a empresa separou R$ 1,2 bilhão para arcar com processos trabalhistas. E ela já tinha outros R$ 1,3 bilhão reservados para isso. Bom, as ações da companhia caíram mais de 12% na quinta-feira.

    A exceção

    O surpreendente do pregão é que a ponta positiva do Ibovespa ficou também com empresas ligadas a consumo: Americanas (ex-B2W) e Lojas Americanas. O lance é que as duas empresas estão no meio de uma reestruturação dos negócios, anunciada no final do segundo trimestre. Nisso, as duas empresas começaram a colher frutos de mudanças no negócio que a Magalu fez lá atrás (como a integração das lojas online e física, por exemplo). Daí esse cenário quase distópico de ver Americanas no pódio de maiores altas, ao mesmo tempo que a Magalu acumula a maior queda.

    Continua após a publicidade

    Pode piorar

    O setor de serviços, que mais padeceu do isolamento social, vinha se recuperando. Mas, em setembro, tropeçou justamente por causa da inflação. Foi uma queda de 0,6%, segundo o IBGE, a primeira depois de cinco altas consecutivas. Para piorar, economistas esperavam uma alta. E faz sentido: se a grana tá curta, você come em casa, e não no restaurante, e a sonhada viagem fica para uma próxima. Nisso, a economia vai definhando e as ações também. Resultado: o Ibovespa caiu 1,17%, aos 106.334 pontos. 

    Ainda bem que existe feriado. Até semana que vem 😉

    Maiores altas

    Americanas (AMER3): 5,66%

    Lojas Americanas (LAME4): 5,45%

    Continua após a publicidade

    BR Malls (BRML3): 3,99%

    Carrefour (CRFB3): 3,03%

    Petrobras (PETR4): 2,68%

    Maiores baixas

    Magazine Luiza (MGLU3): -17,73%

    Continua após a publicidade

    Natura (NTCO3): -16,62%

    Meliuz (CASH3): -9,84%

    CVC (CVCB3): -9,34%

    Locaweb (LWSA3): -8,61%

    Ibovespa: -1,17%, aos 106.334 pontos

    Em NY:

    S&P 500: 0,72%, aos 4.682 pontos

    Nasdaq: 1%, aos 15.860 pontos

    Dow Jones: 0,50%, aos 36.100 pontos

    Dólar: 0,98%, a R$ 5,4569

    Petróleo

    Brent: -0,84%, a US$ 82,17

    WTI: -0,98%, a US$ 80,79

    Minério de ferro: -3,11%, US$ 89,69 no porto de Qingdao (China)

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    A economia está mudando. O tempo todo.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.