No meio da guerra tinha uma pandemia. Vale para a Gripe Espanhola e também para a Covid-19. Já fazia algum tempo que o coronavírus não assustava mais tanto o mercado, mas hoje o Ibovespa voltou a cair por causa dele: -0,88%. O petróleo também despencou, e voltou a ser negociado abaixo dos US$ 100.
O que mudou foi que a China passa por um novo surto da doença, o maior desde o início de 2020. Foram mais de cinco mil casos relatados nesta terça-feira, a maioria na província de Jilin, no nordeste do país. Só para comparação: a média móvel de casos no Brasil está atualmente na casa dos 44 mil. Com a diferença crucial de que, aqui, a sensação é quase como se a pandemia estivesse acabando. A maioria dos estados já flexibilizou o uso de máscaras e outras medidas de prevenção, mesmo com centenas de mortes diárias, e nem se cogita voltar à época dos lockdowns.
Na China, não. O país é o último entre as economias relevantes a manter a política de “Covid zero”, o ambicioso plano de eliminar totalmente o vírus da convivência. Por dois anos, o governo chinês teve sucesso nessa estratégia ao apostar em testagem de massa, rastreamento de contatos e isolamento dos doentes em surtos localizados, por exemplo. E, se os casos fogem do controle, a China aposta nos severos lockdowns para frear o avanço da pandemia.
É o que está acontecendo agora. Com a variante Ômicron, que é muito mais transmissível que as versões anteriores do vírus, o número de casos vem aumentando rapidamente em todo país e ameaçando a política de Covid zero. A resposta da China foi decretar um lockdown em toda a província de Jilin, colocando 24 milhões de pessoas em confinamento. A medida se soma ao lockdown na cidade de Shenzhen, e, no total, mais de 40 milhões de chineses estão em áreas com restrição de movimento – e o número pode aumentar em breve, dado a alta transmissibilidade da variante.
Como a China é uma consumidora insaciável de commodities, uma paralisação temporária em sua economia joga a demanda lá para baixo e os preços despencam. Foi o que aconteceu com o petróleo, que fechou a US$ 99,91 nesta terça-feira, abaixo dos US$ 100 pela primeira vez desde o fim de fevereiro. Antes, o preço da commodity vinha disparando por causa da guerra no Leste Europeu, que diminuí a sua oferta, mas o lockdown chinês veio para balancear o fenômeno.
Com isso, as ações da Petrobras fecharam em -2,42% (PETR4) e -1,86% (PETR3) hoje; a estatal tem o segundo maior peso no Ibovespa e ajudou a firmar o número no vermelho.
Também teve forte queda hoje o minério de ferro, cujo preço caiu -5,23% no porto de Qingdao, na China. Nisso, o poderoso setor de mineração e siderurgia do Ibovespa figurou entre as maiores quedas do dia: a Vale, com maior peso no índice, caiu 2,87%. CSN Mineração -5,30%, CSN -4,19%, Gerdau -4,54% e Usiminas -4,29%. Não tem Ibovespa que aguente.
Magalu ladeira abaixo
Apesar do dia péssimo para as commodities, o maior tombo mesmo veio nas ações da Magalu, cujos papéis caíram 8,63%. A ex-queridinha da bolsa divulgou seus resultados trimestrais ontem depois do fechamento, e os números não agradaram o mercado.
A varejista teve queda de 57,6% no lucro líquido no quarto trimestre de 2021. Os números fracos se devem principalmente pelo desempenho ruim das vendas nas lojas físicas, que caíram 18,4%, mesmo com o crescimento do número de lojas de 1.301 para 1.481.
O movimento já era, até certo ponto, esperado pelo mercado, porque um cenário de inflação alta e juros também prejudica o poder de compra do consumidor e machuca as varejistas. O problema é que esse cenário negativo está longe de acabar, e o mercado entendeu que a Magalu não deve se recuperar tão cedo. E, por falar em juros…
Paz pré-Super Quarta
Enquanto as bolsas brasileira, europeias e asiáticas sangraram nesta terça-feira com as notícias vindas da China, o clima foi de otimismo em Nova York e os índices americanos registraram fortes altas (veja abaixo).
Investidores americanos ignoraram a pandemia na China e a guerra na Europa (que, por sinal, está longe de acabar: a quarta rodada de negociações entre Ucrânia e Rússia não deu em nada) e focaram sua atenção na decisão monetária do Fed, que acontece amanhã (aqui o Copom também divulga sua decisão, por isso a Super Quarta).
O banco central americano deve, finalmente, subir os juros por lá para tentar domar a inflação, que está em seu maior nível em 40 anos. Depois de meses chorando, o mercado já assimilou o desmame. E o otimismo de hoje vem do fato de que todos apostam que a alta nos juros será suave, de 0,25 pontos percentuais, e não um salto mais agressivo de 0,50 p.p., como alguns defendem, principalmente após a queda no petróleo aliviar um pouco os temores inflacionários. A ver.
Até amanhã!
Maiores altas
Azul (AZUL4): 6,91%
Petz (PETZ3): 5,87%
Cielo (CIEL3): 5,33%
Natura (NTCO3): 5,16%
Minerva (BEEF3): 3,76%
Maiores baixas
Magazine Luiza (MGLU3): -8,63%
CSN Mineração (CMIN3): -5,30%
Gerdau (GGBR4): -4,54%
Usiminas (USIM5): -4,29%
CSN (CSNA3): -4,19%
Ibovespa: -0,88%, aos 108.959 pontos
Em Nova York
S&P 500: 2,15%, aos 4.262 pontos
Nasdaq: 2,92%, aos 12.948 pontos
Dow Jones: 1,82%, aos 33.545 pontos
Dólar: 0,76%, a R$ 5,1591
Petróleo
Brent: -6,54%, a US$ 99,91
WTI: -6,38%, a US$ 96,44
Minério de ferro: -5,23%, negociado a US$ 136,19 por tonelada no porto de Qingdao (China)