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Maior inflação americana em 13 anos derruba Wall Street

Já o Ibovespa, que vinha tombando no ritmo de NY, acabou ileso: virou para uma alta de 0,45% com as mudanças propostas para a reforma tributária.

Por Juliana Américo, Alexandre Versignassi
Atualizado em 13 jul 2021, 18h34 - Publicado em 13 jul 2021, 18h26
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     (Tiago Araujo/VOCÊ S/A)

    O mercado se surpreendeu com a alta do CPI, o índice de preços ao consumidor dos EUA. O índice subiu 0,90% em junho ante maio. Para dar uma ideia: no Brasil, onde não há dúvidas de que a inflação é uma ameaça real, o IPCA de junho foi quase a metade: 0,53%.    

    Desde junho de 2008 os EUA não viam um número tão alto para um único mês. O resultado veio bem acima das previsões de economistas consultados pelo The Wall Street Journal. Suas bolas de cristal apontavam para uma alta de 0,50%. 

    Em 12 meses, a alta por lá já é de 5,4% – maior avanço desde agosto de 2008. 

    Nota: em setembro de 2008 a economia americana viveria aquilo que os médicos chamam de EQM (Experiência de Quase Morte). Não foi por conta da inflação acumulada (e sim por uma crise sistêmica), mas o fato é que a inflação da época indicava a existência de algo de podre na economia. Hoje não é diferente. Há algo fora da ordem por lá.

    E esse algo é a política do Fed. O Banco Central deles insiste em manter os juros perto de zero desde quando a pandemia se abateu, na Idade do Bronze. Isso é ótimo para estimular a economia, mas tem o doloroso efeito colateral de criar inflação. Os preços no Brasil mesmo estão do jeito que estão em parte porque a Selic foi mantida em 2% por sete meses a título de estímulo monetário. 

    Em março, quando a nossa inflação mensal bateria em 0,93%, começou uma aumento paulatino na nossa taxa – que já está em 4,25%, e subindo. E tudo indica que o Fed deve seguir a mesma receita (posto que esta é a única capaz de botar a inflação no laço).       

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    Os investidores já não estavam lá muito confiantes sobre a continuidade da política monetária adotada pelo banco central americano. Agora esquece. Tal confiança tende a cair para abaixo de zero. 

    Até porque já tem dirigente do Fed achando que passou da hora de aumentar a Selic deles.

    Em uma entrevista para o The Wall Street Journal, o presidente do Fed de Saint Louis, James Bullard, afirmou que o banco central deveria iniciar imediatamente a redução de seu estímulo monetário. 

    Um fator que pesa nesse sentido nem é o CPI em si. É a chamada “inflação núcleo”, que registrou a maior alta em 12 meses desde novembro de 1991: foi um avanço de 4,5% no anual e 0,9% em junho ante maio. Ou seja: por esse quesito, os EUA vivem sua pior inflação em 30 anos.

    A inflação núcleo é a mais importante para as tomadas de decisão do Fed, pois mede a evolução dos preços excluindo alimentos e energia. Esses variam demais, atrapalhando uma leitura mais equilibrada. Só pena que no Brasil não existe essa preocupação – deveria haver ). 

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    Diante de tudo isso, dá para dizer que as bolsas americanas caíram pouco, até. O Nasdaq recuou 0,38%, aos 14.677 pontos; e o S&P 500, 0,35%, aos 4.369 pontos. 

    Reforma tributária

    Por aqui, o Ibovespa conseguiu descolar do pessimismo gringo e encerrou o pregão com alta de 0,45%, aos 128.167 pontos.

    Mas não significa que foi um dia fácil. A verdade é que o Ibov passou boa parte da terça-feira no negativo. A recuperação só foi rolar no período da tarde, depois que o deputado Celso Sabino apresentou o seu relatório sobre a reforma tributária. 

    O projeto inicial, apresentado há duas semanas por Paulo Guedes, não tinha agradado nosso amigo mercado. 

    Celso propôs alguns ajustes. Além de confirmar a isenção sobre os proventos de quem investe em fundos imobiliários, baixou a alíquota do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ). Pela proposta original, a taxa para grandes empresas ficaria em 25%. Caiu pela metade, para 12,5%. 

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    Para companhias menores, que lucram menos de R$ 20 mil por mês, a tarifa quase zera. Cai de 15% para 2,5% (de forma progressiva, até 2023) – um belo estímulo ao empreendedorismo, diga-se.    

    O almoço, porém, não é grátis. Segundo o deputado, para garantir essas reduções, serão necessários cortes de subsídios para alguns setores. Ele não detalhou quais seriam esses setores, mas afirmou que o corte deve afetar cerca de 20 mil empresas.

    Petróleo

    Quem também deu um empurrãozinho na bolsa foi o petróleo. A Agência Internacional de Energia (AIE) manteve a sua estimativa de alta de 5,4 milhões de barris de petróleo por dia na demanda pela commodity em 2021. Por outro lado, a oferta deve ficar abaixo da demanda, a estimativa é de 770 mil bpd. 

    Claro que os casos de Covid-19 ainda preocupam a organização, principalmente os da variante delta que estão se espalhando em países nos quais a vacinação está mais avançada, como EUA, Alemanha, França e Inglaterra. Mas a previsão é de que a demanda por petróleo voltará aos níveis pré-pandemia no fim de 2022.

    Os preços subiram: o tipo Brent, referência internacional, teve alta de 1,77%. Já o WTI, referência no mercado americano, avançou 1,55%. Com isso, a Petrobras e a PetroRio (que chegaram a figurar entre as quedas do dia) subiram 0,72% e 0,67%, respectivamente. 

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    Hypera

    Entre as maiores altas, o destaque ficou com a Hypera. A companhia subiu 6,73% após anunciar compra de 12 marcas de medicamentos da francesa Sanofi no Brasil, no México e na Colômbia pelo valor de US$ 190,3 milhões. 

    Entre os produtos que não precisam de prescrição médica estão o  antisséptico Cepacol e o analgésico AAS. Já dos que precisam de um pedido médico estão o Buclina, para estímulo do apetite, e o Hidantal, indicado para tratamento de epilepsia. Talvez o mercado vá precisar de uma boa dose desse se o Fed começar uma escalada nos juros dos EUA… 

    Maiores altas

    Hypera: 6,73%

    Hering: 6,17%

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    Multiplan: 2,86%

    BR Malls: 2,83%

    Raia Drogasil: 2,80%

    Maiores baixas

    Embraer: -3,04%

    Equatorial Energia: -2,31%

    Banco Inter: -2,22%

    Cemig: -2,14% 

    Telefônica: -1,77%

    Ibovespa: alta de 0,45%, aos 128.167 pontos

    Em NY:

    S&P 500: queda de 0,35%, aos 4.369 pontos

    Nasdaq: queda de 0,38%, aos 14.677 pontos 

    Dow Jones: queda de 0,31%, aos 34.889 pontos 

    Dólar: alta de 0,13%, a R$ 5,1809

    Petróleo

    Brent: alta de 1,77%, a US$ 76,49

    WTI: alta de 1,55%, a US$ 75,25

    Minério de ferro: alta de 0,29%, US$218,48 no porto de Qingdao (China)

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