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Maior inflação em 25 anos não derruba o Ibovespa

Estabilidade do índice em 0,09% foi cortesia de outra inflação: a dos preços das commodities no mercado internacional. Altas da Vale e das siderúrgicas seguraram a bronca.

Por Juliana Américo, Alexandre Versignassi
9 jun 2021, 18h31
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  • Queda? Que queda? Depois de recuar 0,76% ontem, o Ibovespa fechou estável. Não que o pregão desta quarta-feira (9) tenha sido calmo, ou feito jus aos recordes dos últimos pregões. Só para lembrar: foram oito altas seguidas e seis vezes renovando a maior pontuação nominal da história. Hoje tivemos uma alta sutil de 0,09%, aos 129.906 pontos – estabilidade, depois de o índice ter ensaiado uma baixa no início do dia. 

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    A culpa pelo pessimismo inicial foi dos dados do IPCA de maio. O índice de preços subiu 0,83% em maio ante abril. Esse foi o maior resultado para o período em 25 anos (desde 1996), quando foi registrada uma alta de 1,22%. 

    A alta surpreendeu: os levantamentos da Reuters e do Valor Data indicavam 0,70%.  

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    A energia elétrica foi o que mais pesou. Os preços no segmento subiram 5,37%. Acontece que, em maio, passou a vigorar a bandeira tarifária vermelha patamar 1, que acrescenta R$ 4,169 na conta de luz a cada 100 quilowatts-hora. 

    Isso significa R$ 2 a mais no mês só para manter a geladeira ligada. De grão em grão,a conta de luz vai se tornando um estorvo.

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    Com esse empurrão da energia, mais a pressão de outras altas em ítens básicos, o índice acumulado em 12 meses disparou a 8,06% a maior taxa para o acumulado em um ano desde setembro de 2016, quando foi de 8,48%. 

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    E claro: está bem acima do teto da meta do governo para a inflação no ano – o centro da meta é de 3,75%, podendo variar 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, temos um teto de 5,25% contra o acumulado de 8,06%.

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    Para frear isso, só com belos aumentos nos juros – tão eficazes contra a inflação quanto letais contra a economia (juro alto = consumo baixo = desemprego)

    Bom, semana que vem tem reunião do Copom, e o plano de elevar os juros deve seguir a todo vapor. A primeira elevação em quase seis anos aconteceu em março, quando a Selic passou de 2% ao ano para 2,75%. Hoje, ela está em 3,5%. O Comitê de Política Monetária tinha indicado que elevaria a Selic para 4,25% agora em junho. Talvez venha mais por aí. 

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    Vale e siderúrgicas

    Quem evitou mesmo um segundo dia negativo para o Ibovespa foram as commodities, em especial o minério de ferro. Lá na China, o produto fechou em alta de 1,51% e isso afetou positivamente as mineradoras e siderúrgicas.

    No caso da Vale, que subiu 2,20%, pesou também a favor a informação de que a empresa vai liquidar os passivos referentes ao Project Finance do Corredor Logístico de Nacala (CLN), que atende a uma mina de carvão em Moçambique. 

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    O pagamento de cerca de US$ 2,5 bilhões está previsto para 22 de junho e, com ele, o Ebitda ( lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) não será mais onerado com os custos relacionados ao serviço da dívida nem investimento na manutenção das operações. No ano passado, o impacto no Ebitda foi de US$ 300 milhões. 

    Entre as siderúrgicas, o destaque ficou para a CSN (2,05%). A companhia confirmou que pretende comprar a Elizabeth Cimento, na Paraíba. A cimenteira pertence ao fundo Farallon e o valor do negócio pode chegar a até US$ 250 milhões. 

    A aquisição é estratégica para a divisão de cimentos da CSN, que tem planos de abrir seu capital na B3. A empresa até já fez o registro de IPO, em inglês na CVM (Comissão de Valores Mobiliários)

    E a CSN nem foi a empresa que mais se valorizou na turma do aço: Metalúrgica Gerdau (2,77%), Usiminas (2,72%) e Gerdau (2,62%) tiveram um dia ainda mais radiante. 

    Petrobras

    O petróleo fechou estável: o tipo Brent, que é referência internacional, ficou no zero a zero. Já o tipo WTI, que é referência nos EUA, caiu 0,13%.  

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    Mas isso não atrapalhou tanto a Petrobras. Acontece que a empresa recebeu o aval do Cade para a venda da sua refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, ao Mubadala Investment Company – fundo do governo de Abu Dhabi. 

    A RLAM é uma das oito refinarias colocadas no mercado pela estatal e o negócio de US$ 1,65 bilhão foi fechado no final de março. Na época, o Tribunal de Contas da União foi questionado de que o valor estava abaixo do mercado, mas a denúncia foi julgada como improcedente. 

    Os papéis da companhia subiram 0,38%. Não parece uma alta muito significativa, mas vale lembrar que a Petrobras representa quase 10% da carteira do Ibovespa. Então, qualquer movimentação para cima ou para baixo faz uma bela diferença. 

    Gol

    Lembra dos rumores que a Azul e a Gol estavam interessadas em comprar as operações da Latam Brasil? Essa história ainda não desenrolou, mas a Gol anunciou a aquisição da MAP Transportes Aéreos por R$ 28 milhões.

    Quem não mora no Amazonas ou no Pará (onde a companhia mais atua) talvez nem saiba da existência dela. A Manaus Aerotáxi Participações, porém, é a quinta maior companhia aérea do país, mas isso não significa muito quando o mercado é dominado pela tríade Azul-Gol-Latam. Juntas, elas possuem quase 99% do market share – e sobra míseros 0,81% para a VoePass Linhas Aéreas e 0,15% para a MAP. 

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    Fundada em Manaus, em 2011, a aérea tem sete turboélices ATR com 70 assentos, que operam em rotas da região Norte a partir do Aeroporto de Manaus e nas regiões Sul e Sudeste a partir de Congonhas. Uma operação pequena, mas estratégica para a Gol. A gigante vai ser capaz de expandir a sua malha aérea e aumentar a sua presença em Congonhas – será um aumento de 10% dos slots (permissão para pousos e decolagens) em Congonhas e novos 26 voos diários. 

    Mas, claro, para tirar os planos de crescimento do papel, a Gol precisa que a compra seja aprovada pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Enquanto isso, as ações da empresa avançaram 2,02% e chegaram até a liderar o Ibov no começo do pregão. 

    Marasmo internacional

    Em Wall Street, os investidores estão à espera do CPI (o IPCA deles), que vai ser divulgado amanhã. É aquele cabo de guerra: o mercado aposta que a alta da inflação é persistente, enquanto o Federal Reserve defende que é transitório. 

    A expectativa é alta porque o banco central dos EUA já prometeu que em sua próxima reunião – marcada para semana que vem – vai começar a discutir se vai ou não retirar os estímulos econômicos, que estão criando inflação. 

    Por lá, os indicadores fecharam estáveis: o Nasdaq recuou 0,09%, aos 13.911 pontos. Já o S&P 500 caiu -0,18%, aos 4.219 pontos.

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    Se a inflação de lá vier tão forte quanto a daqui, talvez tenhamos chuvas e trovoadas amanhã – que podem respingar por aqui. Descubra no próximo capítulo 😉    

    Maiores altas

    Suzano: 4,37%

    Tim: 3,55%

    Itaú: 2,83%

    Metalúrgica Gerdau: 2,77%

    Usiminas: 2,72%

    Maiores baixas

    Iguatemi: -4,19%

    Multiplan: -3,24%

    Magazine Luiza: -3,09%

    Cyrela: -2,87%

    Energisa: -2,14%

    Ibovespa: +0,09%, aos 129.906 pontos

    Em NY:

    S&P 500: -0,18%, aos 4.219 pontos

    Nasdaq: -0,09%, aos 13.911 pontos 

    Dow Jones: -0,44%%, aos 34.447 pontos 

    Dólar: alta de 0,69%, a R$ 5,0692

    Petróleo

    Brent: fechou estável, a US$ 72,22

    WTI: queda de 0,13%, a US$ 69,96

    Minério de ferro: alta de 1,51%, US$ 212,67 no porto de Qingdao (China)

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