Salvo uma improvável explosão da terceira guerra mundial, o Nubank chegará à bolsa de Nova York em dezembro valendo US$ 50 bilhões, mais que os US$ 38 bilhões do Itaú, o maior banco do país. E ele vive o melhor de dois mundos: é tratado como gigante por investidores, mas como nanico pelos reguladores do sistema financeiro. Paga menos impostos e tem menos regras a seguir. Só que isso pode mudar.
Apesar de carregar “bank” no nome, o Nubank não é um banco à luz da Lei, mas uma Instituição de Pagamento. Trata-se de uma empresa mais simplificada, criada justamente para aumentar a competição no sistema bancário. Existem centenas de instituições de pagamento no país. Grosso modo, a única coisa que elas não podem fazer é dar crédito com o dinheiro que os clientes deixam na conta. Todo o dinheiro estacionado no Nubank fica, na verdade, em títulos públicos.
Beleza, só que o Nubank faz empréstimos. Como? Ele criou a Nu Financeira, que é um tipo de empresa que existe só para isso. E cada vez mais o banco digital amplia a oferta de serviços, tal qual um banco tradicional. Já tem seguros e até a corretora, a Nu Invest. Aí que o cliente nem percebe que o Nubank não é banco. E, beleza, está tudo dentro das quatro linhas da Lei.
O principal motivo para a diferença de tratamento é a quantidade de empréstimos que cada um faz. E o eventual estrago no sistema financeiro caso um deles quebre por emprestar mais do que deveria.
Só que o Nubank já é grande. São 40 milhões de clientes – perto dos 52 milhões do Santander, o terceiro maior entre os bancos privados (Itaú tem 85 milhões; Bradesco, 99 milhões). Naturalmente, os grandes decidiram pressionar por regras iguais no jogo. O BC estuda o tema, embora não haja data para uma decisão. Outros nomes conhecidos do mercado contam com as mesmas vantagens regulatórias do Nubank, como Stone, PagSeguro e MercadoPago, por exemplo.
Enquanto essas assimetrias não se resolvem, há quem tenha apelado para a Justiça. A empresa de maquininhas Getnet processou o Nubank e a Mastercard por causa do cartão de débito. Motivo: o BC tem uma regra que diz quanto um banco pode ganhar cada vez que o cliente passa o plástico na maquininha: 0,8%. Só que, pelas regras do BC, o cartão do Nubank é pré-pago (mesmo que na prática não seja). Então pode cobrar o quanto quiser. Segundo a Getnet, isso causa prejuízos ao seu negócio.
Essa brecha também está na mira do BC, que ainda cogita baixar a taxa para 0,5%. E aí o Nubank pode sofrer. Hoje, a principal fonte de receita dele é justamente essa tarifa com cartão. Dos R$ 5,7 bilhões que a fintech faturou de janeiro a setembro deste ano, R$ 1,7 bilhão veio dessa fonte.
Mudanças regulatórias, por sinal, são um dos riscos apontados pelo Nubank para o futuro do negócio. Uma perfeita definição de dor do crescimento.