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PETR4 cai 6,61% após abrir porteira para políticos na alta administração

Lá fora, Treasuries acordam em 5%, mas cedem ao longo do dia para 4,84%. Bolsas fecham mistas. Entenda a montanha russa dos títulos americanos.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 24 out 2023, 08h31 - Publicado em 23 out 2023, 18h02
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  • A próxima montanha-russa da Disney poderia se chamar “Treasuries”. O título público de 10 anos dos EUA, que serve de referência para todos os outros, amanheceu hoje em 5,00% – basicamente aquilo que o mercado entende como a linha vermelha. Acima disso, o ar fica perigosamente rarefeito para a economia. 

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    O dinheiro já foge dos mercados de risco (bolsa e títulos públicos de países emergentes) para aninhar-se sob as asas dos títulos americanos quando a taxa está perto de 4%. Acima de 5%, então, rola debandada geral.

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    Mas após o susto das primeiras horas do dia a montanha russa engatou um mergulho – num roteiro semelhante ao da última sexta-feira. Perdeu generosos 16 pontos-base ao longo do dia, e fechou em 4,84% – abaixo dos 4,92% da sexta, quando tinham amanhecido em 4,99%. 

    Montanha russa total. E o sobe e desce fora do comum também pegou as bolsas. O S&P 500 operou em alta pela maior parte do dia, mas terminou no vermelho (-0,17%). Já a Nasdaq seguiu no azul (0,27%). O Ibovespa? Queda de 0,33%, a 112.784 pontos. Por culpa da Petrobras. 

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    PETR4: -6,61%

    Das 86 ações que compõem o Ibovespa neste momento, 69 fecharam no azul. E as que caíram cederam relativamente pouco – ao menos em comparação com a volatilidade de um dia comum. 

    Mas tudo isso com a grande, imensa, exceção da Petrobras: -6,61 % em PETR4 e -6,03% em PETR3, o que jogou o Ibovespa no negativo, dado o peso da Petroleira no índice (14%).

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    Motivo: A empresa basicamente deixou as porteiras abertas para a indicação de políticos para cargos “na alta administração de no conselho fiscal”. 

    Isso acontece na Petrobras desde o tempo em que o representante do acionista controlador, o governo, se chamava Getúlio Vargas. Mas tinha sido proibido pela Lei das Estatais, de 2016. Essa lei, a número 13.303/2016, impôs uma quarentena de 36 meses para políticos que tenham participado de campanha eleitoral – em grande parte por conta do assalto que os cofres da Petrobras tinham sofrido nos anos anteriores.  

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    Em março, porém, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, suspendeu os efeitos da lei, alegando possível inconstitucionalidade. O julgamento final, sobre se a lei cai ou não, ainda não tem data. Mas o conselho da Petrobras decidiu, nas palavras deles, “excluir vedações para a indicação de administradores previstas na Lei nº 13.303/2016 consideradas inconstitucionais (…).  

    Ou seja: uma cajadada naquilo que o mercado chama de “governança”. E a resposta veio, na forma de uma queda histórica nesta segunda-feira. 

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    De volta aos EUA – porque a montanha russa dos Treasuries merece mais explicações. Vem com a gente.       

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    A mecânica dos títulos americanos

    Quem deu o gatilho para a queda nos juros foi o megainvestidor Bill Ackman, que gere US$ 18,5 bilhões via seu hedgefund, o Pershing Square Capital Management. Ele operava vendido em Treasuries de vencimento longo, e anunciou no twitter que estava encerrando suas posições.  

    Em português agora: operar vendido é apostar na queda do preço. Mais: títulos caem de preço quando o rendimento deles sobe. O IPCA+2035, por exemplo, custava R$ 2.301 a unidade em 14/08. A esse preço, o rendimento dele era de 5,15% ao ano. Hoje, o IPCA+2035 rende 5,86%. E seu preço está em R$ 2.155. 

    Os juros variam em função do preço. É que o valor a receber pelos títulos no futuro é sempre o mesmo. No caso do IPCA+2035, R$ 4.153 em valores de hoje (VNA). Quanto mais barato você paga, então, maior o juro anual necessário para chegar a esses R$ 4.153 lá na frente. 

    Com os títulos americanos é a mesma coisa (fora o fato de que os títulos mais populares por lá são os prefixados com juros semestrais, e aqui, os IPCA+).

    Bom, Ackman justificou sua atitude dizendo que o momento era de muito risco no mundo, então não fazia sentido apostar em mais quedas nos preços dos juros americanos – já que a demanda por eles tende a aumentar. Isso parece ir na contramão da lógica: por que as bolsas chegaram a reagir bem ao longo do dia se a previsão aí é a de que mais dinheiro flua para os títulos, não menos? 

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    Porque para a bolsa, para essa entidade abstrata chamada “mercado”, não interessa a previsão em particular. Importa o que aconteceu com as taxas em si. E elas caíram – já que o preço, após o anúncio de Ackman subiu. E taxas menores podem atrair menos dinheiro para os títulos lá na frente, independentemente do que Ackman ache ou deixe de achar.

    Por outro lado, a queda do S&P no final do dia mostra que, a menos nesta segunda, boa parte do mercado concordou que faltará dinheiro para as ações, mesmo se o rendimento dos Treasuries cair. 

    Até amanhã.  

     

    MAIORES ALTAS

    CVC (CVCB3): 9,20%

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    Gol (GOLL4): 5,51%

    MRV (MRVE3): 5,28%

    Azul (AZUL4):4,61%

    Cogna (COGN3): 4,18%

     

    MAIORES BAIXAS

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    Petrobras (PETR4): -6,61%

    Petrobras (PETR3): -6,01%

    Magazine Luiza (MGLU3): -1,95%

    Prio (PRIO3): -1,73%

    Suzano (SUZB3): -0,91%

     

    Ibovespa: -0,33%, a 112.784 pontos.

     

    Em Nova York

    S&P 500: -0,17%, a 4.216 pontos

    Nasdaq: 0,27%, a 13.018 pontos

    Dow Jones: -0,58%, a 32.936 pontos

     

    Dólar: –0,29%, a R$ 5,01

     

    Petróleo 

    Brent: -2,35%, a US$89,93.

    WTI: -2,94%, a US$ 85,49. 

     

    Minério de ferro: -2,45%, a US$ 114,13 na bolsa de Dalian

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