Já durante o pregão desta quinta-feira, a Petrobras anunciou um presentão para seus acionistas: dividendo de R$ 6,732 por ação. No total, serão distribuídos R$ 87,8 bilhões referentes só ao segundo trimestre deste ano. É um recorde para a companhia.
É do tipo “nunca antes na história deste país”. A bolada anunciada para este ano, que soma R$ 136,28 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio, já bateu em 35% os R$ 101,4 bilhões pagos aos acionistas no ano passado. E é só metade do ano. E olha que o barril de dinheiro despejado nos bolsos dos investidores no ano passado também havia sido recorde.
A escala é estupenda por onde quer que se olhe. Pelo recorte do dividend yield, dá 21,5%, considerando o preço da ação no fechamento de ontem (R$ 31,35).
A bolada anunciada superou as estimativas mais otimistas. O Itaú BBA previa até R$ 4,20 por ação e o Credit Suisse, R$ 5,60 por papel.
Serão contemplados aqueles que tiverem o papel em mãos até 12 de agosto. A primeira parcela, de R$ 3,366 por ação, vai ser paga no dia 31 de agosto e a segunda será debitada em 20 de setembro.
Bem, quem tem e continuará tendo ações da Petrobras em 12 de agosto é a União. Dos R$ 88 bilhões em dividendos, R$ 32 bilhões vão para o caixa do governo, que tem 36% da companhia. Em resumo, a bolada extraordinária vai ajudar a pagar a PEC Kamikaze, a medida eleitoreira que abriu um rombo de R$ 42 bilhões no teto de gastos. Naturalmente, pegou mal entre investidores, o que desconjuntou o dólar e levou os juros para a lua.
Aí o governo tentou dar uma remediada. Pressionou as estatais para elevar e antecipar, “se possível”, o pagamento de dividendos de 2023 ainda em 2022. A ideia era levantar uma grana extra para deixar a conta no zero a zero. A Caixa disse que faria. A Petro tava em cima do muro…
Hoje, por sinal, teve bondade para todo mundo: acionistas, governo e consumidores de combustíveis. A Petro anunciou também redução de 3,88% na gasolina e 2,6% nos preços do querosene de aviação.
No balanço do dia, os papéis da petroleira fecharam em alta de 3%, a R$ 32,29, maior valor desde maio, quando chegou ao pico anual de R$ 36,20. O Ibovespa foi no embalo e subiu 1,14%, a 102.596,66 pontos.
Investidores até se deram ao luxo de ignorar que o anúncio dos dividendos foi feito no meio do pregão, algo inusual. Ao que tudo indica, a informação havia vazado ao mercado e a empresa precisou antecipar o fato relevante. A B3 chegou a suspender a negociação das ações temporariamente, para investidores terem tempo de ler o comunicado oficial.
E como se não fosse informação o bastante, a Petro divulgaria o balanço do segundo trimestre depois do fechamento do mercado – disputando as atenções com a Vale.
Recessão nos EUA?
Além dos balanços positivos, o pregão desta quinta foi favorecido pelo PIB americano mais fraco do que o esperado.
Os Estados Unidos registraram dois trimestres seguidos de contração na economia. Na teoria, daria para chamar de recessão técnica. De abril a junho, o PIB do país caiu 0,9%, após ceder 1,6% no começo do ano. O número divulgado nesta quinta veio pior do que o esperado pelo mercado (alta de 0,4%), mas, contraintuitivamente, essa parece ser uma boa notícia para os ativos de risco.
Com uma economia mais fraca, o Fed talvez suba menos os juros daqui pra frente, o que machucaria menos as bolsas de valores. É o que o mercado precificou neste pregão, com as bolsas em NY fechando em alta.
Ok. mas é ou não é recessão? Quem crava isso é o National Bureau of Economic Research, uma espécie de IBGE deles. Sem o aval da turma, economistas passaram o dia jogando malabar pra cima tentando a situação. O lance é que a(s) queda(s) sozinhas não configurariam uma recessão, dado que alguns outros dados econômicos continuariam bem, obrigado, caso do mercado de trabalho.
O presidente Biden concorda. Segundo ele, os dados “não soam como recessão”, citando a baixa taxa de desemprego do país, de apenas 3,6%.
Os republicanos, é claro, criticam o governo democrata e o acusam de esconder a recessão.
Enquanto o mercado de trabalho registrou melhora, o consumo pessoal, setor que mais pesa na economia americana, desacelerou e cresceu só 1% com o peso da inflação.
Apesar da surpresa desagradável de hoje, espera-se uma recuperação no segundo semestre.
Amazon e Apple superam estimativas
A Amazon também divulgou seus números do segundo trimestre após o pregão desta quinta. O prejuízo líquido de US$ 2 bilhões no período foi ofuscado por uma receita melhor do que o esperado (US$ 121,23 bilhões contra uma estimativa de US$ 119,09 bilhões) e uma perspectiva mais otimista da companhia para o terceiro trimestre. No after market, as ações subiram mais de 10%.
Já a Apple teve lucro líquido de US$ 19,442 bilhões, uma queda de 10,6% na comparação anual, mas acima das estimativas de Wall Street. As ações da companhia chegaram a subir 3% no after market.
Maiores altas
Qualicorp (QUAL3): 7,65%
Natura (NTCO3): 6,00%
Petz (PETZ3): 4,75%
Hapvida (HAPV3): 4,61%
EzTec (EZTC3): 4,48%
Maiores baixas
Marfrig (MRFG3): -4,76%
Gol (GOLL4): -4,65%
JBS (JBSS3): -3,32%
EDP (ENBR3): -3,22%
Minerva (BEEF3): -2,50%
Ibovespa: 1,14%, a 102.596,66 pontos
Em NY:
S&P 500: 1,21%, a 4.072,17 pontos
Nasdaq: 1,08%, 12.162,59 pontos
Dow Jones: 1,02%, a 32.526,86 pontos
Dólar: -1,67%, a R$ 5,1633
Petróleo
Brent: 0,16%, a US$ 101,83
WTI: 0,86%, a US$ 96,42
Minério de ferro: 6,87%, a US$ 119,74 no porto de Qingdao (China)