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Petrobras perde R$ 28 bilhões na bolsa; e isso foi antes de Bolsonaro trocar o presidente da estatal

Tombo equivale a uma BR Distribuidora (e um pouco mais). Após o fechamento do mercado, presidente indicou Joaquim Silva e Luna para comandar petroleira.

Por Luciana Lima, Tássia Kastner
Atualizado em 19 fev 2021, 20h21 - Publicado em 19 fev 2021, 20h05
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  • “O presidente da Petrobras falou ‘eu não tenho nada a ver com caminhoneiro’.” “Isso vai ver uma consequência.” “Alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias.” Com essas três frases, ditas na quinta (18) à noite, o presidente Jair Bolsonaro contratou o tombo de quase 8% nas ações da Petrobras e deu a largada nas especulações da saída de Roberto Castello Branco do comando da petroleira. 

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    Só nessa brincadeira, a estatal perdeu R$ 28 bilhões em valor de mercado. Isso dá mais que toda a BR Distribuidora, que vale R$ 26 bilhões, e ainda sobra uns trocados.

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    E a ameaça se concretizou 24 horas depois, quando Bolsonaro efetivamente anunciou a demissão de Castello Branco e a indicação de  Joaquim Silva e Luna para a companhia. 

    O primeiro problema dessa história é óbvio: interferência direta do presidente da República em uma companhia com ações negociadas na bolsa. Nesta sexta dava para passar o dia apostando na queda da estatal na B3 com short selling — aquilo que o pessoal da GameStop e o Elon Musk odeiam e que explicamos como funciona na reportagem de capa que acaba de chegar às bancas.

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    Mas esse é só o primeiro problema mesmo. O fato é que os combustíveis estão subindo mesmo. Só em 2021 foram quatro reajustes na  gasolina e três no diesel.

    Tem um motivo: O preço do petróleo no mercado internacional se recuperou de todas as perdas da pandemia (veja as cotações no final do texto) e  esse é um dos componentes do preço dos combustíveis vendidos pela Petrobras. O outro é o dólar, que valorizou 30,63% em um ano. 

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    Ou seja, a alta era inevitável, considerando que a estatal se comprometeu a não vender combustível a preços mais baixos que os praticados no exterior. Essa é a tal da política de preços da Petrobras, criada durante o governo Temer para devolver a confiança dos investidores na companhia. 

    Antes disso, durante o governo Dilma, a Petrobras passou anos segurando os preços dos combustíveis para evitar a alta da inflação, o que gerou problemas graves de caixa para a companhia.

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    De volta a 2021. Mesmo com os aumentos sucessivos — e as queixas de quem abastece carros e caminhões –, a Petrobras está vendendo gasolina e diesel a um preço menor que o praticado no mercado internacional. É que a política de preços já vinha capengando desde a greve dos caminhoneiros de 2018. 

    Quando a Petrobras anunciou o reajuste, na quinta, o Credit Suisse disse que a Petrobras se aproximaria de uma paridade nos preços de importação. Ainda assim, calcularam que a gasolina brasileira estava 5% abaixo do preço internacional, enquanto o diesel tinha um desconto de 6%. A XP projetou a defasagem em 7%, e o Goldman Sachs calculou em 8%. 

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    Uma troca de comando na Petrobras que tem como pano de fundo a insatisfação do presidente a alta dos combustíveis seria lida como a morte da política de preços da companhia.

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    A questão é que o preço dos combustíveis — do diesel — é realmente um problema político para o governo Bolsonaro. Caminhoneiros formam parte da base de apoio do presidente — e são grandes consumidores de diesel. Eles chegaram a ensaiar uma greve no começo do mês, que não foi para frente. Ainda assim, conseguiram se fazer ouvir em Brasília.

    Enquanto isso, o presidente faz o que pode (e até o que não pode). Na mesma live em que contratou a demissão de Castello Branco, ele anunciou que vai zerar por dois meses, a partir de 1º de março, os impostos federais que incidem sobre o diesel. Já o gás de cozinha terá a isenção do imposto “ad eternum”. 

    O custo dessa renúncia de impostos é de R$ 3 bilhões e num momento em que o governo não tem mais onde cortar gastos e tampouco gerar receitas para cobrir despesas da pandemia, como o auxílio emergencial.

    Isso significa que a live do Bolsonaro bateu também no ministro da Economia, Paulo Guedes, que se desdobra para dizer que o governo está comprometido com o equilíbrio fiscal.

    O dia foi tão ruim para o governo que, segundo reportagem do jornal O Globo, os grupos de WhatsApp da Faria Lima afirmam que Bolsonaro dilmou.

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    Não é a primeira vez que o presidente intervém em companhias estatais. Foram incontáveis episódios, com maior ou menor repercussão na bolsa (como contamos aqui).

    Nesta sexta, as ações da Petrobras já abriram o dia caindo 4% e passaram o pregão inteiro no vermelho. Como a estatal é o segundo maior peso no Ibov, levou de arrasto o índice todo. O Ibovespa terminou o dia em queda de 0,64%, aos 118.430 pontos. 

    Além da Petro, os bancos também recuaram, o que ajuda no estrago. O Itaú terminou em -1,04%, Bradesco caiu 0,84% e Banco do Brasil perdeu 1,89%. 

    Pode confessar, você até queria outro feriado na semana que vem só pra ficar uns dias sem perder dinheiro, né? 

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    Maiores altas

    B2W: 6,80%

    Azul: 3,30%

    Pão de Açúcar: 3,26%

    CSN: 3,22%

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    Embraer: 2,83%

    Maiores baixas

    Petrobras On: 7,92%

    Petrobras PN: 6,63%

    IRB: 3,90%

    Raia Drogasil: 3,59%

    Via Varejo: 3,38%

    Dólar: -1,02%, cotado a  R$ 5,38

    Petróleo

    Brent: -1,78%, a US$ 62,79 o barril

    WTI:-2,12%, a US$ 59,24 o barril

    Minério de ferro: queda de 0,86%, cotado a US$ 173,55 a tonelada no porto de Qingdao (China). 

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