A aviação lida com um fenômeno instigante: a “turbulência de céu claro”. Trata-se de um movimento brusco de massas de ar na ausência de sinais visíveis, como nuvens. (é por isso que pedem para você ficar com o cinto afivelado durante o voo todo, por mais que você não obedeça). E hoje o Ibovespa passou por uma turbulência de céu claro. Só que no bom sentido.
Não havia nuvens no ar. Ou seja: era uma sexta-feira de agenda vazia, e sem grandes notícias que dessem algum horizonte. Mesmo assim, o índice passou por uma alta expressiva: 1,81%, tirando a zica da semana (que fecha em 2,13%, aos 120.216 pontos).
Expressiva e generalizada. Das 86 ações que compõem a carteira atual do Ibovespa, 83 fecharam no azul.
A começar pela… Azul (AZUL4), e sua rival laranja, a Gol (GOLL4).
As duas aéreas estão entre as ações que mais entraram em queda livre nos últimos anos. A fundada por David Neeleman viveu seu pico histórico em 2020, logo antes da pandemia, a R$ 61,35. Ontem, tinha fechado em R$ 17,00.
Pobres buy and holders que entraram a mais de R$ 60. De lá até o fechamento de ontem, a ação tinha caído 72%.
A Gol foi ainda pior. Seu pico (não histórico, mas relativamente recente) foi de R$ 43,79, no ensaio de bull market generalizado que se ensaiava em 2019. Desde então, ela caiu 78%.
Para comparar: a queda do Ibovespa entre seu pico histórico, 130.776 pontos (junho de 2021), e o fechamento de ontem, foi de apenas 9,7%.
E nesta sexta as duas aéreas, com seus combalidos papéis, fincaram pé entre as maiores altas. AZUL4, 8,82%; GOLL4, 7,56%.
Na verdade, esse foi um padrão neste dia de turbulência de céu claro do bem. Empresas que apanharam feio desde seus picos de poucos anos atrás marcaram presença entre as altas mais relevantes. É o caso de Via (6,84% nesta sexta) e Magalu (4,14%). Veja aqui na tabelinha:
Quedas entre o pico recente e o fechamento de ontem:
Azul: -72% – de R$ 61,35 (2020) para R$ 17,00
Gol: -78% – de R$ 43,79 (2020) para R$ 9,65
Via: -91% – de R$ 21,17 (2020) para R$ 1,90
Magalu: -89% – de R$ 27,45 (2020) para R$ 2,90
As altas, de qualquer forma, não são mera obra do Espírito Santo, claro. A queda do dólar (0,47%, a R$ 4,78) são um bom agouro para as aéreas brasileiras, que têm receita em real e boa parte dos custos (leasing, combustível, dívidas) na moeda americana.
Além disso, dados divulgados nesta sexta pela Anac mostram que, depois da turbulência pandêmica, o número de viajantes em junho foi o maior em 8 anos. No mês, 7,2 milhões de passageiros subiram aos ares no mercado doméstico.
Também há o fato de que hoje foi dia de vencimento de opções. Isso tende a empurrar as ações mais negociadas para cima (grandes investidores fazem compras para forçar altas e lucrar com elas, ou reduzir eventuais prejuízos; entenda aqui como as opções funcionam).
No caso das varejistas, Magalu e Via, dá para considerar que elas recebem um impulso do desenrolar do Desenrola Brasil, que pode e deve limpar o nome de parte de sua clientela, liberando-a para mais compras a prestação – que obviamente têm um horizonte mais limpo, dado o iminente início dos cortes na Selic.
Cortes nos quais o mercado colocou fé hoje: os juros futuros caíram por toda a curva temporal. Com efeito imediato de valorizar os títulos públicos de inflação – que vão bem, obrigado: o IPCA+2045, por exemplo, sobe 22% no ano.
De resto, o bom fechamentos dos pesos pesados VALE3 (0,61%), mesmo com o minério em ligeira baixa) e PETR4 (1,96%), com uma força da alta de 1,80% no barril) garantiram a retomada do Ibovespa para além dos 120k.
Que venham mais turbulências assim. A não ser que você opere vendido, porque aí será turbulência no mal sentido mesmo 😉
Bom fim de semana!
MAIORES ALTAS
Azul (AZUL4): +8.82%
Gol (GOLL4): 7,56%
Via (VIIA3): 6,84%
Magalu (MGLU3): 4,14%
Carrefour (CRFB3): 3,8%
MAIORES BAIXAS
Metalúrgica Gerdau (GOAU4): -0,62
Gerdau (GGBR4): -1,09
Petz (PETZ3): -0,16%
Ibovespa: 1,81%, aos 120.216,77 pontos. Na semana, 2,13%
Em Nova York:
Dow Jones: 0,01%, a 35.228,48 pontos
S&P 500: 0,03%, a 4.536,32 pontos
Nasdaq: -0,22%, a 14.032,81 pontos
Dólar: 0,47%, a R$ 4,78. Na semana, -0,30%
Petróleo
Brent: 1,80%, a US$ 81,07 por barril. Na semana, 1,50%
WTI: 1,88%, a US$ 77,07 por barril. Na semana, 2,32%
Minério de ferro: -0,12%, a US$ 117,90 por tonelada na bolsa de Dalian
