Os investidores foram dormir ontem preocupados com a votação da PEC dos Precatórios. Acordaram com a notícia de que a proposta foi aprovada por uma margem minúscula – 312 votos a favor, quando eram necessários 308.
O texto pedala parte dos precatórios de 2022, as dívidas que o governo precisa pagar após decisão judicial definitiva, para 2023 e 2024; também muda a metodologia de cálculo do teto de gastos. Juntas, as duas medidas abrem mais de R$ 90 bilhões no Orçamento para o governo pagar o Auxílio Brasil, um Bolsa Família turbinado, em ano eleitoral.
O mercado não gosta da ideia de dar um jeitinho no teto de gastos. Mas a alternativa é ainda pior. Se a PEC não for aprovada, o governo estuda prorrogar a distribuição do auxílio emergencial só aumentando as despesas, mesmo, sem pudor algum de desrespeitar o teto de gastos. Tudo para conseguir financiar medidas populistas em 2022.
Aí o entendimento é que é menos pior ter uma regra para os gastos extras, ainda que no jeitinho brasileiro, do que deixar as contas públicas ao Deus-dará. Nisso, o Ibovespa passou a manhã em queda (porque feliz mesmo ninguém ficou), mas o derretimento veio de tarde.
É que a PEC ainda não foi aprovada de fato; ela precisa ser votada em segundo turno na Câmara e depois ainda vai ao Senado. E o processo promete plot twists. Para passar, o texto precisou dos votos favoráveis de deputados de partidos da oposição – mais especificamente, do PDT e PSB. Juntos, eles somaram 25 deputados a favor da medida. Não precisa nem falar que pegou mal.
Depois do almoço, veio a reação negativa. A mais forte foi de Ciro Gomes: o pedetista anunciou suspender sua pré-candidatura à presidência até que a bancada do partido reavalie sua posição. Já o PSB convocou uma reunião do partido na segunda-feira para bater o martelo – o presidente do partido defende voto contrário à PEC.
Logo depois do fechamento da bolsa, Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, afirmou à CNN que o partido entrará com uma ação no STF para anular a votação da PEC. Ele argumenta que Arthur Lira, presidente da Câmara, alterou monocraticamente a forma da votação, que seria presencial, aceitando votos remotos
O segundo turno da votação deve ocorrer só na terça-feira (9). Até lá, mistério sobre o futuro fiscal do país (que novidade). Nisso, o Ibovespa despencou 2,09%, caindo ao patamar menor patamar de 2021 (103.412 pontos), o dólar subiu (+0,29%, a R$ 5,6061) e os juros futuros dispararam.
Mais pessimismo
Ações dos bancões pesaram na queda do Ibov: Bradesco PN -6,62%, Bradesco ON -5,43%, Itaú -5,28%, Banco de Brasil -2,35% e Santander -4,13%.
O Bradesco divulga seus resultados do terceiro trimestre hoje, após o fechamento do mercado. Ontem, o Itaú liberou seus números, que vieram sólidos: o banco teve lucro líquido contábil de R$ 5,8 bilhões, um crescimento de 28,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Mas nem isso salvou os papéis de amargarem no vermelho.
Em teleconferência para apresentação dos resultados, Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú, disse que “os sinais para a economia em 2022 não são muito encorajadores”. Ele citou especialmente o risco de aumento na inadimplência, já que os juros ficarão ainda mais altos. O CEO aposta que a Selic atinja 11,25% no final do ciclo atual.
Ajudou a injetar mais uma dose de pessimismo nas previsões macroeconômicas do país (como se precisasse). Até amanhã.
Maiores altas
Getnet (GETT11): 5,28%
Minerva (BEEF3): 3,68%
Marfrig (MRFG3): 3,60%
JBS (JBSS3): 3,05%
Raia Drogasil (RADL3): 1,80%
Maiores baixas
Rede D’Or (RDOR3): -8,17%
Ultrapar (UGPA3): -8,09%
Cogna (COGN3): -7,96%
Banco Pan (BPAN4): -7,74%
Pão de Açúcar (PCAR3): -7,70%
Ibovespa: -2,09%, aos 103.412 pontos
Em Nova York
S&P 500: 0,42%, aos 4.680 pontos
Nasdaq: 0,81%, aos 15.940 pontos
Dow Jones: -0,09%, aos 36.124 pontos
Dólar: 0,29%, a R$ 5,6061
Petróleo
Brent: -1,77%, a US$ 80,54
WTI: -2,54%, a US$ 78,81
Minério de ferro: Feriado na China, sem negociações no porto de Qingdao
