Haja matéria-prima para fazer um computador. Você precisa de petróleo para as peças de plástico, silício para as placas, cristal líquido para o monitor e até de uma minúscula luzinha para o botão de liga e desliga. É inviável fabricar tudo isso por conta própria: existem fornecedores que já mandem teclas, telas e luzinhas prontas, ainda que alguns componentes possam ser de fabricação própria. Cada um desses fornecedores terá seus prazos, preços e particularidades.
Uma vez montados os computadores, chegou a hora de fazê-los chegar ao consumidor. Das lojas de bairro aos homéricos centros de distribuição da Amazon, há muitos caminhos para dar vazão a um produto – e cada um exige volumes e preços diferentes. No jargão da logística, denomina-se cadeia de suprimentos esse caminho tortuoso que um item percorre entre o petróleo cru e a sua casa.
A fabricante de computadores, no centro da cadeia, arca (de maneira resumida) com dois riscos. Em uma ponta, há sempre uma chance de que o fornecedor não dê conta do recado e entregue menos matéria-prima que o combinado. Na ponta oposta, as lojas podem superestimar o número de compradores – o que leva a indústria a pensar que há mais demanda pelo produto do que há realmente há.
Um estudo publicado por pesquisadores das universidades americanas de Akron e Arkansas simulou essas duas situações (compra de insumos e estimativas de venda dos varejistas) com voluntários de ambos os sexos representando cada um dos envolvidos nas negociações. Eles descobriram que mulheres atuando no varejo fazem estimativas mais realistas do volume de vendas de um produto, e também que mulheres na ponta oposta – a do fornecimento – são menos propensas a subestimar as demandas de matéria-prima da indústria.
Além disso, quando o contato entre fornecedor-indústria ou indústria-varejo ocorria entre um homem e uma mulher, o homem tendia a ser mais amigável e cooperativo do que quando negociava com outro homem.
Ou seja: mesmo uma cadeia de suprimentos igualitária já opera com menos desperdício ou escassez do que uma cadeia dominada por homens – ao menos no contexto de uma simulação. É claro que mais estudos são necessários, tanto para replicar esses resultados em laboratório como para verificar se as conclusões se aplicam à vida real (o que se pode fazer, por exemplo, acompanhando a eficácia de empresas reais com mulheres ou homens no comando dos setores de suprimentos).
Um outro levantamento recente revela que a participação feminina na liderança de cadeias de suprimentos caiu de 41% para 39% entre 2022 e 2021. Ou seja: garantir ambientes de trabalho mais igualitários não é só uma necessidade social, mas também um passo importante para melhorar as empresas e a cooperação entre elas.