Desigualdade custa caro – não só para quem está na ponta de baixo da balança, mas para a economia de todo o país. Não é uma ideia nova entre os economistas, mas pesquisas recentes estão medindo o impacto na prática. Segundo um novo estudo, desigualdades raciais, de gênero e no acesso à educação e ao mercado de trabalho custaram quase US$ 23 trilhões à economia dos Estados Unidos nos últimos 30 anos – e a cifra tende a aumentar.
A pesquisa, publicada no começo de setembro, foi feita por economistas do Fed de San Francisco, na Califórnia, incluindo a presidente da instituição, Mary Daly (o Banco Central americano é formado por 12 unidades espalhadas pelo país). Os pesquisadores analisaram dados econômicos de 1990 a 2019 de homens e mulheres brancos, negros e latinos não-brancos, com idade entre 25 e 64 anos.
A desigualdade entre as pessoas foi medida através de cinco métricas: porcentagem de empregados; horas trabalhadas; nível educacional; utilização dessa educação (se as pessoas ocupavam vagas correspondentes ao seu nível educacional); e gaps na renda que não eram explicadas por esses fatores.
As primeiras conclusões foram aquelas que todo mundo já sabem: minorias étnicas, como negros e hispânicos, têm menos acesso à educação e empregos formais nos Estados Unidos do que pessoas brancas. Já as mulheres também estão atrás, não tanto no quesito educação (elas já são maioria entre quem termina o ensino superior nos EUA há algum tempo), mas especialmente nas categorias acesso ao emprego e horas trabalhadas – muitas abandonam carreira e reduzem jornada para cuidar dos filhos, por exemplo.
Aí o que a equipe fez foi estimar como as coisas seriam diferentes se o mercado de trabalho e o acesso a educação fossem mais igualitários do que são hoje. E chegaram a conclusão que a economia americana perdeu quase US$ 23 trilhões nestes 30 anos por conta da desigualdade. Ou seja: se essas pessoas tivessem acesso à educação e à qualificação, poderiam usar 100% de seu talento para produzir mais. Por conta das diferenças raciais e de gênero, essa capacidade ficou subutilizada.
Como ressaltam autores, essa cifra não é algo que só as minorias perderam no período – é o quão a economia como um todo deixou de ganhar. Não é como se o dinheiro sairia dos brancos ricos e iriam para as minorias pobres magicamente caso as coisas fossem mais igualitárias. O “bolo” todo cresceria, já que a economia não é um jogo de soma-zero, destacam os autores.
O estudo vem também com um alerta: a coisa pode ficar pior. Isso porque os dados foram coletados pré-pandemia, e o impacto da Covid-19 é sabidamente desigual também – pior para quem já está por baixo. Além disso, os Estados Unidos estão se tornando uma sociedade cada vez mais diversa. O censo de 2020 mostrou que 58% dos americanos são brancos – os outro 42% são hispânicos não-brancos, negros, asiáticos e outras minorias étnicas. Em 2010, brancos eram quase 64%: Se a desigualdade continuar, o impacto econômico pode ser ainda maior.
“A oportunidade de participar da economia e ter sucesso com base na habilidade e esforço é a base de nossa economia”, escrevem os autores. “Infelizmente, barreiras estruturais têm impedido essa trajetória para muitos americanos, deixando os talentos de milhões de pessoas subutilizados. O resultado é uma prosperidade menor, não apenas para os afetados, mas para todos.”
Não é o primeiro estudo a chegar em conclusões do tipo, diga-se. Em 2014, economistas calcularam que o PIB americano registrado em 2012 poderia ter sido 14% maior – o equivalente a US$ 2,1 trilhões – não fossem as desigualdades raciais no emprego e nos salários.
Uma outra equipe estimou que reduzir as desigualdades raciais em fatores como saúde, educação, encarceramento e emprego até 2050 resultaria em US$ 8 trilhões a mais no PIB americano.