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Sofia Esteves

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Fundadora e presidente do conselho do Grupo Cia. de Talentos, professora e pesquisadora de gestão de pessoas
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Sabe o que mais impacta a qualidade da saúde mental no trabalho?

Isso varia de acordo com a idade do profissional e cargo. Os jovens não gostam de ambientes tóxicos, já a liderança reclama da carga de trabalho elevada.

Por Sofia Esteves
22 jul 2021, 16h00
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 (Luis Villasmil/Unsplash)
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Se você fosse chutar uma resposta, sem parar para refletir muito ou buscar informações embasadas, provavelmente diria que o alto volume de demandas tem grandes chances de ser a alternativa correta. Outra aposta segura seria o próprio ambiente de trabalho, tantas vezes apontado como um dos responsáveis pelo adoecimento das pessoas.

De fato, essas causas apareceram na edição recente da pesquisa Carreira dos Sonhos, do Grupo Cia de Talentos, e, ao ler isso, você muito provavelmente não se surpreende. As pessoas se queixam da carga de trabalho elevada e comentam como o clima organizacional ruim impacta no seu bem-estar. Nada novo sob o sol.

Mas e se eu contar que esses foram os dois itens mais citados por todos os grupos pesquisados, dos mais novos aos mais seniores na organização? Diante da pergunta “O que mais impacta a qualidade de sua saúde mental no ambiente de trabalho?”, jovens, profissionais que ocupam cargos de média gestão e alta liderança apontaram o ambiente tóxico e a carga de trabalho como os grandes responsáveis pela mudança na qualidade da saúde mental.

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(Grupo Cia. de Talentos/Divulgação)

Para entendermos melhor o que isso significa, vamos olhar para alguns números: a pesquisa escutou 98.355 pessoas sobre questões relativas à carreira e ao trabalho. Destas, 78.684 eram jovens profissionais, 12.786 eram da média gestão, e 6.885 da alta liderança. Diante da pergunta já citada, a alternativa “ambiente tóxico”, que incluía bullying e assédio moral, aparece como o principal fator para os jovens (28% dos votos) e para a alta liderança (18%). Esses dois também concordaram que a carga de trabalho elevada pesa na qualidade da saúde mental, indicando esse item como o segundo principal.

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Já na avaliação da média gestão, a ordem se inverte: 19% dos votos para carga elevada e 18% para ambiente tóxico. E, quando olhamos para a terceira causa mais mencionada, temos uma variação: os jovens acham que a falta de clareza na definição das funções e objetivos prejudica a saúde mental, enquanto os dois outros grupos apontam a questão da empresa ter líderes despreparados.

O que tudo isso quer dizer, levando em consideração o cenário dos últimos tempos? Vale lembrar que a pesquisa foi realizada entre janeiro e março de 2021.

Bem, algumas reflexões que me vêm à cabeça são:

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  • Independentemente das funções, das responsabilidades e do nível de senioridade, todos parecem estar sobrecarregados: a percepção sobre o volume de trabalho costuma variar muito entre as camadas da empresa, mas, ao que tudo indica, a pandemia impactou grandemente a quantidade de tarefas. Alguns estudos têm alertado quanto ao crescimento das horas extras no trabalho, principalmente entre aqueles que estão na modalidade remota ou híbrida, e à sensação de trabalho contínuo, como se as pessoas não desligassem nunca de seus afazeres profissionais.
  • A percepção sobre o clima organizacional não se restringe ao ambiente físico: quem achava que missão, visão e valores eram só palavras bonitas para se pendurar nas paredes de uma empresa, deve ter percebido que, na verdade, a cultura de uma organização extrapola os limites físicos. Você não precisa estar dentro do escritório, da fábrica, enfim, dos espaços da sua empresa para sentir o impacto negativo de um ambiente de trabalho tóxico. Da mesma forma, uma boa gestão de pessoas deve expandir seus horizontes e ser vivenciada verdadeiramente em qualquer lugar.
  • As diferentes gerações parecem compartilhar as mesmas dores: nunca gostei do termo “conflito geracional” porque entendo que coloca o foco da discussão no lugar errado. Por isso, falo de encontro de gerações. Sim, pessoas nascidas em momentos diferentes e que, portanto, têm vivências distintas e que refletem o cenário de uma época vão se relacionar com o trabalho de formas variadas, porém, ainda assim, elas podem compartilhar características. Acho interessante notar que as três camadas de profissionais analisadas na Carreira dos Sonhos revelam similaridades quando o assunto é saúde mental. Talvez, um encontro de gerações focado nisso possa ser um bom ponto de partida rumo à empatia.

Outras análises podem ser feitas a partir desses dados, mas a mensagem que fica é a de um apelo grande para as empresas: as pessoas precisam de cuidado. Seja no modelo presencial, seja no remoto, seja no híbrido, as pessoas precisam de segurança psicológica, de orientação e de suporte.

Muitas coisas mudaram nos últimos tempos e, naturalmente, nosso bem-estar foi impactado, porém existe algo que é constante nas empresas dos sonhos, aquelas que prosperam e crescem: o olhar atento sobre o fator humano.

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